Caminhada

CAMINHADA

Gosto da solidão, de ficar só comigo mesmo, de observar a paisagem, e fazer longas caminhadas pelos bosques, percorrer toda orla do rio, que corre calmo e tranqüilo, com suas águas claras, que vem de Minas, atravessando todo o sertão e vai à busca do mar. Vou sentindo o perfume das flores silvestres, que a brisa leve e suave traz de longe e pelo caminho vejo borboletas coloridas, voando soltas e alegres, brilhando sob a luz do sol, abelhas buscando o néctar das flores, para fazer o seu mel e bandos de pássaros, cruzam a imensidão do céu azul, numa harmonia de movimentos precisos e graciosos, parecendo um balé.

Vou caminhando com passos lentos, observando toda a paisagem, que se estende sobre o olhar e a vista mira o horizonte que se perde lá por detrás daquelas nuvens azuladas. A diversidade de tons e texturas, de cores, de cheiros e odores, que exalam das encostas, cheias de ramagens e plantas exóticas, estimulam os sentidos e a imaginação corre solta pelos pensamentos, pelas idéias e uma agradável sensação, percorre todo o corpo, que liberara serotonina, esse neurotransmissor que nos proporciona esse momento de prazer.

A solidão propícia a introspecção, aquele mergulho pra dentro de si, aquele momento de reflexão, de ficar frente a frente com você mesmo e chamar todos os seus fantasmas pra briga, de auto-análise, de colocar na balança os prós e contras de uma situação, a solidão é sábia companheira. Às vezes caminho pela manhã, outras ao entardecer.

Existem diferentes sensações e percepções, entre a alvorada e o crepúsculo, ou seja, entre o amanhecer e o escurecer. No amanhecer a sensação é de movimento, de alegria, de vida.

Os pássaros cantam uma diversidade de melodias e flores de todas as cores e matizes, se abrem num festival de cheiros e perfumes, é a sinfonia da esperança que se renova, é à força da manhã que vem carregada de energia solar, de luminosidade, tudo vale à pena, tudo está para se fazer, para se construir e assim nasce o novo.

Desculpe-me pelos pleonasmos e redundâncias, mas sempre virá uma nova manhã e as esperanças são renovadas. Quando o sol vai se pondo, sumindo na paisagem, formando um clarão por detrás das nuvens, e os raios solares, tingem o céu de um tom amarelo escuro e não nos ferem os olhos, contemplamos aquela maravilha de Deus e nos sentimos impotentes diante de tanta beleza, a sensação é de repouso.

Nesse quadro o escurecer vem trazendo à “senhora noite”, os grilos tritinam pelo mato, sapos coaxam no brejo, as galinhas cacarejam no poleiro, os pássaros procuram seus ninhos. Uma melancolia nos invade e nos abate a alma e o medo nos domina, quando um curiango voa anunciando as criaturas da noite, a coruja pia seu grito carregado de mistério e terror, de repente tudo se transforma, a primeira estrela brilha no céu, um sentimento de que nada somos nos consome e lembramo-nos de como a vida é breve e efêmera.

Como ficar alheio, distante das coisas do mundo? Principalmente deste mundo globalizado de hoje, é tudo tão rápido, as notícias na TV, as tragédias, as guerras, o caos, a miséria humana, a exploração dos fortes sobre os fracos, a injustiça, os preconceitos. Uma nova ordem mundial está estabelecida, econômica, política e social.

Será possível uma política de sustentabilidade, que possa salvar o planeta?A ciência poderá tornar-se uma nova religião?Todos esses temas são dúvidas que pairam no ar e de alguma maneira, nos afeta e nos consome, provocando estresse e preocupações no nosso inconsciente.

Podemos chamar isso de “coisas da vida moderna”? Por que trabalho tanto?No entanto vivo procrastinando, que paradoxo! Por que tanta competição? Preciso ser o melhor, ter o carro mais moderno, comer a mulher mais gostosa, a casa mais bonita, que coisa mais careta, mais classe média, preciso ir pra Miami, gastar os meus dólares em bolsas e sapatos. Como assim... Não to entendendo? Porque a ética não existe mais? Principalmente na nossa sociedade brasileira cheia de jeitinhos prá lá e jeitinhos prá cá. Existe o “medíocre arrogante”, que se auto-proclama o “Bonzão” e acredita piamente que é um gênio. Quanta pretensão, não tem noção de respeito, nem limites, dentro da sua mediocridade. Conhece alguém assim?O mundo ta cheio deles infelizmente.

Não coma isso! Não coma aquilo!Principalmente as mulheres, estão assim, escravas de um modelo estético paranóico, ficaram neuróticas, tomam prozac, ficam alimentando um monstro que se chama “eterna juventude” e isso se transfere para todas as classes sociais, onde os reallity-shows, os bbb`s da vida deitam e rolam , ditam modas e comportamentos, criando debiloides e imbecis, manipulados pelos interesses da grande mídia.

Deixando o pensamento voar, caminho solitário pelas veredas da orla, cruzo com um par de moças bonitas, que risonhas passam indiferentes, seguras da sua juventude, ai finalmente penso que tudo ta certo e assim será para todo o sempre.