SECURA (EC)

Olhares sem gota

Tristeza engolida a seco

Imenso sertão

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Não é preguiça, não!

É o sol...

Queima a cabeça...

Confunde o pensamento...

Faz ver água onde é tudo seco.

Não precisa pedir desculpa!

Só Velho Chico e Guimarães pra entender a gente mesmo.

A longitude das distâncias...

As dificuldades intermináveis só menores que a fome.

Olhar o céu e ver, desenxabido, as nuvens passarem a caminho da Mata...

Sem derramar um pingo.

Será que alguma nuvem daqui chega até lá?

Mando sempre um recado para minha Maria...

Era Bonita...

Rechunchudinha...

Depois das prenhezes, mudou...

Carne grudou nos ossos...

Tetas murcharam...

Sem leite igual as vacas que restaram.

As que caracará não devorou, deixando só ossada na terra crua de tanto cozinhada pela estiagem.

Não queria sair de lá.

Fazer o quê?

Os apertos me fizeram vir pra cá.

Tentar a vida...

Carregar cimento...

Construir prédio grande...

Bonito...

Pra muita gente morar...

Ganhar um dinheirinho...

Juntar economias...

Depois voltar...

Construir uma casa...

De cimento...

Luz elétrica...

Água na torneira...

Só para a gente morar...

Bonita e as crianças...

Que não estou vendo crescer...

Saudade?

De montanha...

Bate vontade grande de trazer eles pra perto...

Conto as moedas e penso...

Melhor passar apuro lá mesmo.

A gente tem nome...

Nosso ritmo...

Não é tudo:

”Vai depressa, Ceará!... Baiano... Paraíba... Pernambuco.

Pra que a pressa?

Devagar dá mais tempo para a esperança se lembrar de mim.

Ela deve estar por aí nessa imensidão que se vê daqui de cima.

Quem sabe um dia nos encontremos...

Eu espero...

A gente é forte.

Vez em quando choro, sim...

Que nem agora.

Não está vendo as lágrimas?

Acho que elas nem saem mais pra fora...

De secura...

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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Seca

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Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 01/12/2014
Reeditado em 04/09/2015
Código do texto: T5055002
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