Leito

Todos os dias você diz que meu coraçao bate devagar e tão baixo... Só seus ouvidos o ouvem, nem eu mais posso o sentir. Não posso me sentir e meu coraçao é fraco, mas posso oferecê-lo pra bombear meu sangue e o seu. Não posso sentir o frio em minhas mãos, mas posso esquentar as suas. Não posso fechar minhas feridas, mas posso impedir feridas em você. E sobre minhas cicatrizes, não posso apagá-las, mas os seus nachucados, cuidarei-os pra que você nunca precise enxergar espaços de sua vida, escritos em sua pele. Esses lençois de hospital ficam melhores na minha cama do que na sua. Esqueça de me tirar daqui, apenas venha me visitar, pra eu poder nunca te deixar usar esses aventais e comer essa comida ruim, pra eu te ensinar a não ter apenas um maço de cigarros como calma. Aqui neste leito, vou te impedir de confundir balas com remedio e dores com alcool. Vou sorrir apenas pra você enxergar um sorriso de uma alma que restou o medo de te ver perder o encanto dos olhos ao ouvir uma musica tocar, e me deixar não te deixar cair. Eu sorrio se for pra te manter em pé. Não pergunte como cheguei aqui, querida. Não cheguei a lugar nenhum, apenas algum dia ao tropeçar vi ali onde meus pés geralmente estavam, algo que me segurou. Não diga que me ama, amor, porque eu te amo, e amo tanto... Mas eu não tenho nada a perder te deixando ser o motivo de escolher essas paredes brancas e essas enfermeiras que quase sempre me chamam de louca do que uma cama a sete palmos desse chão que você pisa enquanto deixa essas lagrimas caírem. Mas você tem, não me deixe ser nada pra você, me visite apenas como expectativa de vida, e eu te mostrarei em mim o que jamais ser. Querida, não se mate ao me ver pulsar devagar... Eu não posso me salvar, mas eu posso te salvar.