Cuidado! correr rápido demais pode ser um erro. Na estrada há muitos compradores de valores...

Tem hora que é preciso viver e deixar o sonho numa curva qualquer...

Pelo retrovisor ainda podia ver que não era daqui, e isso me fazia correr... Ah que ironia, quanto mais eu corria na direção dos sonhos menos nítido ficava a velha percepção de lugar. A distância tem dessas coisas, nos dá a sensação de ter caminhado demais, mas nos ensina que para andar é preciso deixar muita coisa para trás.

Numa curva qualquer... Perdi você, o sonho e a própria fé... Ainda me sinto um estrangeiro, mas dessa vez não faço ideia de quem eu sou. Talvez um andarilho a procura de si mesmo.

Numa curva qualquer, eu amei e sonhei até o fim, mas o fim acabou, e o sonho se perdeu.

Os valores agora tem preço. Mas eu preferi não vender os meus... Mas isso me custou o sonho de sonhar em amar você.

Não percebemos... Mas somos afetados pelas propostas pós modernas maquiadas de emancipação.

A liberdade é a primeira coisa que nos vendem em troca de nossos valores. Não percebemos, mas de forma sutil somos comprados e abrimos mão do sonho de ser livre no amor, de ser livre ao ser livre, alguns são livres na própria prisão, e essa é a pior de todas as liberdades, abrimos mão de ser aquilo que a gente quer ser, e nos tornamos naquilo que compramos.

Compraram o amor, em troca nos deram prazeres vazios de sentido e significado.

Ah confesso, já cheguei a negociar com "eles", mas fui forte para desistir do negócio a tempo...

Alguém aí ainda sonha em ser?

Numa curva qualquer... Negociantes compravam quase tudo, e foi ali que senti doer o velho coração, foi ali que enterrei o meu sonho antes que ele fosse tirado a força de mim. Numa terra de preços, viver de valores é quase um suicídio existencial.

Numa curva qualquer, escolhi existir, mas como existir quando enterramos parte de nós por medo de ser quem a gente é? Fácil: fingindo. Porém fingir não é viver. Fingir é um mero existir.

Tem hora que é preciso viver e deixar o sonho numa curva qualquer... Peraí! Essa é uma mentira que venderam a mim e eu comprei sem perceber... Não, não, não!

Pegando o primeiro retorno... Preciso voltar a velha curva "qualquer" e desenterrar o sonho e voltar a viver...

Cuidado! Compramos idéias que ferem nossos valores (os mais caros a nós) e quase não nos damos conta disso, se não voltarmos a velha curva, nos tornaremos naquilo que não somos, caso não se importe com isso tudo bem... Os mercenários agradecem, afinal, estes não cessam de comprar valores e vender ideias modernas, porém emancipadas demais para velhos sonhadores.

Tem hora que é preciso viver... Mas antes, é preciso voltar a ser.

Luciano Cavalcante
Enviado por Luciano Cavalcante em 11/11/2014
Reeditado em 11/11/2014
Código do texto: T5030733
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