PARA PRESIDENTE, RACHEL SHEHERAZADE!

Tudo aconteceu numa sexta feira. Era horário de fim de expediente e as vias do Eixo Monumental estavam congestionadas. Ninguém andava nem para a frente e nem para trás. A multidão tomava, literalmente, todos os espaços do asfalto e, dentro dos carros e ônibus, os motoristas já haviam desistido de buzinar.

A polícia não tinha como avançar com os seus veículos, nem mesmo com o auxílio ruidoso das sirenes abertas e nem com o lampejar das suas luzes coloridas. A massa humana era tal que somente os das beiradas podiam andar um pouco.

Estava tudo fora de controle e a ira geral cuidava de alavancar os brados e os gestos do mar humano. Do alto dos edifícios, na Esplanada, os servidores olhavam a massa imaginando-se protegidos pela rigidez do concreto. Mas, a maioria desejava estar lá em baixo, protestando e engrossando o barulho da inconformidade.

Os canais de televisão, impotentes no asfalto, cuidavam de assestar suas câmeras a bordo de helicópteros, sem coragem para vôos a baixa altura. Tinham receio de serem atingidos por “artefatos” e sofrerem alguma avaria. Um acidente naquelas circunstâncias ceifaria algumas centenas de vidas numa só tacada...

Os seguranças que cuidavam das entradas, dos prédios públicos, já estavam cuidando de safar-se dos indefectíveis ternos pretos e se ocultarem por dentro de alguma bermuda ou um jeans qualquer. As ameaças de invasão eram iminentes e cada qual só pensava em salvar a própria pele.

De repente, o vozerio aumentou de maneira ensurdecedora. Um grupo de revoltados que havia invadido um dos prédios em que se abrigavam os da Justiça viram ser arrastados peara o meio da rua, altos dignitários da corte, todos pedindo socorro, a plenos pulmões.

Como se obedecessem a uma só ordem, ao mesmo tempo, dos outros prédios também saíam os altos figurões das hierarquias e, também, arrastados eram levados, pelo povo, para o meio das ruas. Em seguida, pela turba, povaréu, eram todos amarrados aos postes da Esplanada.

Aquela sexta-feira ficou sendo conhecida como “A Sexta da Porrada”. Sem dó nem piedade, os populares acabaram com a farsa e com os abusos a que foram submetidos durante todo o tempo em que creditaram seus votos a esses representantes corruptos e corruptores e os que não julgavam o que deveriam julgar...

Muito poucos foram os que escaparam. O populacho resolveu tomar para si, o direito de exercer os Três Poderes. O Poder da Indignação, o Poder da Vingança e o Poder da Restauração.

Acalmada a fúria, voltaram-se contra os “Black Blocs” e cuidaram deles, do mesmo jeito que dos demais. No meio da multidão, alguém levantou uma grande faixa verde, amarela e azul com os dizeres: “Para presidente, Rachel Sheherazade!”...

Na faixa, lá estava a foto da diva do SBT, mais linda do que nunca, com aquele maravilhoso sorriso que desbancava o da Mona Lisa. Leonardo da Vinci, possesso, do alto do Memorial JK, praguejava contra o governo e os seus falidos Três Poderes...

“Para as profundas dos infernos” – Bradava...

Amelius
Enviado por Amelius em 05/11/2014
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