VIAGEM ABOLICIONISTA

Há dias, me despedi da bela Lisboa antiga, que fala dos séculos passados, que o tempo não se conta mais. E, aqui, as margens do Tejo, depois de mirar-me nas águas do Sena, entre o Danubio e Tamisa, me acho. E, quero permanecer aqui, como que, refugiada neste velho continente, pai e mãe das Americas que tanto amo.

Hoje, amanheço pedalando ruas estreitas, escorregadias, pelo inverno molhadas. Ao relento, vou rodando sob os finos pneus desta bicicleta, filtrando no rosto a brisa fria, que vai vencendo o calor dos ossos, o ardor do coração, iniciando, assim a demolição de alguns sonhos de amor, durante décadas, na alma guardados, acalentados pela cantiga do passar do tempo foi se eternizando em mim e, ser humano que sou, menina franzina que, vida afora se fez mulher. E, aprendeu a ser forte, determinada e guerreira, vencendo sua fragilidade interior. Hoje, aqui distante de tudo que, é seu ou julga ter sido, encontra-se, consigo mesma, disposta a assumir sua realidade, isto é, a exata, idade fisiológica, sim... mas, parece, nasce, uma nova mulher...

Neste inicio de tarde, céu encoberto, enfrento o frio. O tempo não oferece espaço, para alguns tímidos raios de sol que, vão se apresentando pouco a pouco. A timidez dos seus raios, entre nuvens, contrasta com o meu interior, que em alerta, percebe que meus olhos avidos, vão se debruçando sobre os Portais dos Campos de Concentração... Aqui, para esta mulher que foi sempre jovem nos seus ideais, a mesma sonhadora e amante das liberdades, na verdade, capaz de sofrer décadas, por amor perdido. Agora, vai deixando, este amor, bem cuidado e muito amado, por tanto e tanto tempo no coração e na alma acalentado, vai com firmeza e determinação, desse se desfazendo, e por mais que lhe custe, disposta se acha a deixa-lo, aqui,longe, bem distante de sua terra , de sua gente, de sua America do Sul, do seu Pais do estado e cidade, para que sirva de conforto e alivio. aos martires e vitimas do nazismo.

E, assim, renovada, liberta, quero voltar a minha Pátria, a minha casa, e para minha gente, livre dos fantasmas de risos, juras e carinho de um amor que, se dizia imensurável... volto, para o meu pedacinho de chão, na certeza de não mais ser escrava, cativa nem reclusa, de um amor que, em minha vida por décadas, entre sonhos e pesadelos, quase entristeceu o meu viver...

Aqui, termina uma longa viagem de amor que, sozinho, por anos e anos afio, viveu em mim. Agora, sai de dentro de si mesma e, vai ficar aqui, do outro lado do mundo, como chama permanentemente, acessa, a velar os martires da liberdade, bem aqui, do outro lado do Atlantico... bem longe das minhas Praias do Cabo Branco, Manaira, Tambau. Poço e Camboinha...

Josenete Dantas
Enviado por Josenete Dantas em 31/10/2014
Reeditado em 14/09/2015
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