Histórias que a vida conta.

Simone chegou entusiasmada. Trazia nas mãos um vestidinho branco que mais parecia de uma pequena boneca.

Quando Simone veio ajudar minha filha nos afazeres domésticos, ainda era solteira. Hoje, já casada e com duas filhas, ela faz quase parte da família.

O que mais chama atenção no comportamento de Simone é sua tranqüilidade ante as adversidades e seu bom astral, sempre estimulante para quem convive com ela. Como boa mineira,Simone, não é de entrar em detalhes sobre sua vida particular. Em nossos encontros, os assuntos estão ligados ao dia a dia e aos acontecimentos recentes. Eu sabia que sua mãe havia falecido há pouco tempo, que D. Maria, sua mãe, era pessoa especial e com vários filhos; nada mais.

Por isso, estranhei quando ela, Simone, colocou em minhas mãos o pequenino vestido branco, dizendo:

- A senhora acredita que esse vestido foi meu e que um dia ele me serviu?

Segurei o pequeno vestido com incredulidade devido a seu pequeno tamanho. Não era uma camisinha pagã, como se dizia em tempos idos. Era um vestidinho com pouco mais de um palmo.

Ainda admirada, observei que o vestido havia sido feito todo à mão, com pontos miúdos e perfeitos.

Curiosa, observei...

-D. Maria era caprichosa, fez o vestido todo à mão. Ela não devia ter máquina.

Simone sorriu e falou: - Não foi mãe Maria que fez, foi minha verdadeira mãe. Mãe Maria guardou com carinho e me deu antes de morrer.

Fiquei espantada. Eu não conhecia aquela história.

Simone percebeu meu espanto

- A senhora não sabia? E continuou: Eu era gêmea, minha irmã e minha mãe morreram dias depois do parto. Meu pai ficou sozinho com seis filhos menores. Sem saber como criar, distribuiu os seis em casas vizinhas. Morávamos numa pequena cidade do interior de minas. Fomos criados próximos, mas em famílias diferentes. Mãe Maria, que já tinha outros filhos, ficou comigo e passeia fazer parte da família como sua filha. Tive assim, outros irmãos...... E continuou.

...Meu pai verdadeiro não mais se casou e permaneceu por perto. Hoje ele está com 80 anos e nós, seus filhos, casados e morando em outras cidades, (um deles já se foi, era o mais parecido comigo) nos reunimos em datas específicas para estarmos todos juntos.

Eu segurava o pequeno vestido branco. Meus olhos estavam marejados. Emocionada, eu imaginava o carinho da humilde mãe que, com tantos filhos, ainda encontrara tempo para demonstrar seu amor através de um pequeno vestido confeccionado, a mão, ponto a ponto. Filho que ela não chegaria a ver crescer.

Senti em minhas mãos a energia deixada naquele vestido. Energia vital, elo de amor que ultrapassa o tempo.

Pensei na dor daquele homem ao perder a companheira e se ver só, com seis crianças pequenas, tendo que assumir uma atitude de amor e desprendimento ao entregar seus filhos para outras famílias; e a distância manter o vinculo familiar, esquecido de sua própria vida.

Percebi, naquela história, a grandeza da raça humana quando se deixa envolver por um amor maior.

Lisyt

Lisyt
Enviado por Lisyt em 19/10/2014
Reeditado em 20/10/2014
Código do texto: T5004627
Classificação de conteúdo: seguro