Réquiem para um Sonho

Está se tornando frustrante ingressar nas redes sociais e, ao invés de encontrar as habituais chamadas de cultura, arte e humor que amenizam nossas agruras diárias, nos depararmos com entediantes pregações sobre... POLÍTICA! Nada de novo ou interessante. Apenas o eterno embate entre a esquerda maniqueísta e raivosa do PT e a direita decrépita e preconceituosa do anti-PT.

Pessoas que, em épocas normais, enalteciam sentimentos de humanidade e tolerância, deixam-se agora levar cegamente por incontidos impulsos de veneração messiânica a seu candidato e de impiedosa satanização ao maligno concorrente. Nesse mundo habitado por arcanjos e belzebus, emergem tais arautos de aluguel tomando as telas dos nossos celulares e tablets com ameaças apocalípticas a nosso livre arbítrio eleitoral. E a que honroso propósito serve tanto empenho? Apenas para legitimar o assalto ao comando da nação promovido pelos candidatos de plantão e sua horda de asseclas cujas plataformas, afora sutis divergências programáticas, têm em comum um insaciável apetite pelo poder.

A mesma gente que há um ano e pouco desfilava sua indignação em gigantescas manifestações de rua, a fim de extirpar o câncer da corrupção e construir um mundo mais digno para nossos filhos, agora dirige seus clamores para exaltar as virtudes da bolsa família e do Pré-Sal. Onde foram parar os nobres e ambiciosos ideais de mudança que iriam passar a limpo nosso país? Desembocaram na vala comum das modorrentas palavras de ordem do PSTU e do PSOL, na atitude de quebrar vidraças de farmácias e de fazer propaganda eleitoral para safados. Que decepção!

Passada a débil onda libertária, ressuscita o transcendental dilema de escolher o menos pior entre PT x PSDB! Até a candidata que representava a mudança e propusera uma “nova política” foi alijada cruelmente da disputa. Bastou através de algumas inserções televisivas plantarem meia dúzia de calúnias a seu respeito para colocá-la na lona do ceticismo. A utopia foi tachada de desvario e a esperança tornou-se irresponsabilidade. Assim foi melhor: os ares verdes da mudança poderiam intoxicar nosso organismo já acostumado a inalar os gases putrefatos dos conchavos e dos mensalões. Comodamente nos rendemos à mediocridade da mesmice. Voltamos ao velho e conhecido embate ideológico entre a ‘direita neoliberal privatista’ e a ‘esquerda stalinista corrupta’. Melhor deixar tudo como está... assim poderemos masoquistamente nos lamentar e prometer daqui a 4 anos ‘dar o troco’ nas urnas da ilusão.

Merecemos continuar a ser um povo medíocre, governado pelos políticos ainda mais medíocres que elegemos. Não me refiro aos Tiriricas e Russomanos da vida, escolhidos por um eleitorado humilde e mal informado. Falo dos políticos profissionais que nos arrebatam com a veemência de seu discurso politizado para poderem por trás do pano exercer suas inconfessáveis tramoias.

Chegado o dia 26, visualizaremos na tela da urna eletrônica do TSE a foto do chefe (ou da “chefa’) da quadrilha que irá nos governar e nos espoliar legitimamente pelos próximos 4 anos, usufruindo das benesses do poder e do arsenal de cargos de que democraticamente não abre mão.

Poderemos assim tranquilos e trouxas retornar a nossos hábitos diuturnos e a nossas vidinhas ordinárias, retomar no facebook as velhas postagens vazias e as mesmas frases imbecis de auto-ajuda que glorificam o mundo maravilhoso que estará mais inalcançável do que nunca.

sergio sayeg
Enviado por sergio sayeg em 18/10/2014
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