Café quentinho, acompanhado de biscoitinhos de araruta.

Café quentinho, acompanhado de biscoitinhos de araruta.

Ela ganhou dois cestos de araruta*. Não vou dizer que “ela” é minha filha, porque isso é apenas um detalhe; Nana é um ser humano que cativa a todos, com seu jeito simples e dinâmico.

Bem... Nana chegou trazendo a araruta e veio me perguntar como se fazia o polvilho:

Voltei no tempo...

Lembrei da minha infância:...

Casa de minha avó, no interior de Minas... Dia de colher araruta... Dia de festa para as crianças e de muito trabalho para os adultos: Colher, descascar, picar, ralar ou moer a araruta.

Nas minhas lembranças:... Vejo uma toalha branca, presa a duas árvores próxima a porta da cozinha. Como uma rede do nordeste. Ali, a araruta ralada era depositada aos pouco, lavada e espremida até só restar o bagaço. A água que escorria ficava depositada em grandes tabuleiros; na água estava o polvilho.

Os tabuleiros eram colocados ao sol e ali permaneciam para que houvesse a decantação. Só então a água seria escorrida, delicadamente, deixando, no fundo do tabuleiro, a camada de polvilho: um pó branco, compacto e leve; que deveria ficar ao sol até estar bem seco, o que poderia levar vários dias, quando, então, seria esfarelado e guardado para futuro uso em vários quitutes.

As crianças, e eu era uma delas, ficavam a espera da água escorrida dos tabuleiros, que, colocada em panelinhas de pedra ou latinhas eram deixadas de lado para novamente decantar; sempre restava algum polvilho. Tínhamos assim: sobras de polvilho para nossas brincadeiras.

Dia de sol, falatório e cantoria. Toda família reunida, trabalhando juntos. Cheiro de mato, lenha, terra, alegria.. Galinha cacarejando anunciando que já havia ovo no ninho. Criançada correndo e aprontando...

Saudade boa!...

Pois, sem que eu esperasse, minha filha trazia-me, agora, a velha araruta, acompanhada de velhas lembranças!

Seguindo minha orientação, ela deu início ao mesmo ritual, em menores proporções, é claro, mas com o mesmo encantamento! Como quem resgata um passado que, talvez, tenha sido também, o dela.

E hoje, ainda bem cedo, nessa manhã de domingo nublado: Recebo, junto com uma xícara de café, da roça, um potinho cheio de biscoitinhos de araruta, feitos por minha filha. Uma delícia!!

Biscoito com gosto de infância. Lembranças coloridas, que hoje se refazem em um gesto de amor e que mostra o quanto a vida pode ser bela quando estamos cercados de carinho.

Café quentinho, acompanhado de biscoitinhos de araruta. Isto, também, é felicidade!

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*Araruta é o nome popular de uma planta da família

das Marantáceas, gênero Maranta, de cuja raiz (tubérculo),

é produzida uma fécula (farinha), branca, muito fina, que é

alimentícia. Também é conhecida como agutingué, araruta-

-palmeira e embiri. Sua fécula é usada no preparo de bolos,

mingaus e biscoitos, sendo ideal para pessoas idosas e

crianças pequenas, pois não possuem glútem. É originária

das regiões tropicais da América do Sul e encontra-se em

processo de extinção, pois a indústria alimentícia vem

substituindo-a por produtos à base de trigo, mandioca ou

Lisyt
Enviado por Lisyt em 27/09/2014
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