Atrevida

Ela era uma pessoa meio abusada, atrevida. Crescida sem pai nem mãe, e abandonada pela pessoa que a proveu de tudo o que é necessário para uma criança se desenvolver bem, assim que atingiu a maioridade. Então, o que sobrara para respeito? As coisas que ela respeitava eram conceitos que desenvolveu através de leituras, de heranças atávicas. Num tempo em que criança realmente obedecia e chamava os pais de senhor e senhora, ela nem aí para essas convenções. Para ela todo mundo era você. Não importando o sexo ou idade. E tinha absoluta certeza. Respeitar não era (ou é?) chamar de senhor e senhora. Respeito era (ou é?) uma postura de consideração para com o próximo, um entendimento das condições, das situações e saber ver cada coisa no seu devido lugar com um humano consenso.

Além disso as coisas que ela respeitava envolvia uma extrema sensibilidade.

Um olhar de realmente ver, as crianças, os seres humanos de um modo geral, os animais, a natureza nas suas mínimas manifestações.

Assim era ela. Docemente atrevida.