A DERROTA DO PT

A DERROTA DO PT

O PT perdeu! Perdeu a razão. Mais que isso. Em meio ao show de agressões e insultos que marca a atual campanha eleitoral, onde todos somos perdedores, o PT perdeu o rumo. E vem perdendo e se perdendo cada vez mais, mergulhado no lamaçal para onde pretende também levar seus concorrentes para melhor enxovalhá-los, fazendo dessa campanha um festival de baixarias inigualável.

Com isso, o PT perdeu também o resto do respeito conquistado durante a sua luta pela democratização e por um país digno. A sigla, outrora o símbolo de esperança e de mudança, vem nessa campanha se tornando propagadora do medo e do conservadorismo que tanto criticara.

O fato é que o PT não sabe perder. Por que lhe é tão difícil aceitar que as pessoas querem mudar, trocar os valores vigentes, arejar as práticas políticas viciadas que ele ajudou a sedimentar?

O PT perdeu apoio. Hoje seu programa de governo conta com aprovação apenas dos beneficiários dos programas assistencialistas e das regiões mais atrasadas do país. Além, é claro, da legião de fiéis seguidores. Seu discurso esvaziou-se de conteúdo programático e passou a visar pequenos ganhos a varejo. Afina-se com aqueles que não conseguem entender os intrincados mecanismos do poder e para quem ter um magro benefício pecuniário no fim do mês compensa as mais tenebrosas imoralidades práticas político-administrativas. Perdeu a simpatia e a reverência das camadas mais esclarecidas da população. Não me refiro às elites econômicas, mas à maior parte dos intelectuais, artistas, universitários, profissionais liberais, desiludidos com a maneira petista de governar.

O PT perdeu o fascínio. A perder de vista. Seu discurso era cativante. Afinal o adversário que se acostumara a combater, e que podia ser facilmente derrotado, era tucano por excelência. E bradava um discurso contra a corrupção que não colava pois encarnava a ‘direita’ e o ‘privatismo’ neoliberal.

Agora, o inimigo não provém das respeitosas elites brancas urbanas engravatadas. Vem da floresta, tem a pele parda e enrugada, como um avatar, incorporado na figura feminina, frágil, franzina e maltrapilha de uma seringueira. Uma mulher simples, de origem humilde que tem um passado irretocável de luta pela ecologia, preservação da natureza e conservação das comunidades nativas e indígenas. Alguém que, por ironia, proveio de seus próprios quadros. Carne da sua carne. Atuava ela dentro das fileiras do próprio partido e abandonou-o por constatar que o governo a que servira havia virado as costas para o meio ambiente rendendo-se aos interesses do agronegócio desmatador e ao desenvolvimento sem sustentabilidade.

E, para piorar, evangélica! Sim, como grande parte da nossa população. Não evangélica de ocasião, que precisa adular os pastores com enganosas frases de efeito, para angariar apoio. Mas evangélica da gema. Daquelas imbuídas de crenças que, embora questionáveis, vinham carregadas de rígidos princípios, negligenciados nos descaminhos amorais trilhados obliquamente pelo país nos últimos 12 anos.

O PT perdeu o sono. Como enfrentar uma figura assim? Não podendo derrubá-la com argumentos tradicionais, restou apelar para deslavadas mentiras para desqualificá-la com torpeza e sem melindres. Não conseguindo questioná-la no terreno dos argumentos, lança despudoradamente calúnias e inverdades inomináveis, sem ficar mais vermelho do que já é por natureza.

Afinal o PT não tem nada a perder. Perdido por um, perdido por mil.

Com tantas perdas, vai o PT perdendo seu brilho estelar. Seu vigor atual não está mais no incisivo discurso ideológico o qual, com exercício do poder, dissociou-se da postura ‘pragmática’ e das negociatas feitas em nome da ‘governabilidade’. A força do PT que antes residia na solidez de seus ideais, agora repousa na organização quase militar de sua aguerrida militância que obedece cegamente, sem questionar, as palavras de ordem ditadas pela sede do Politburo. Ou no tempo da TV quase quatro vezes superior à sua ‘ameaçadora’ oponente que, nos poucos segundos que lhe são concedidos, não tem como retrucar as calúnias a ela dirigidas. Sim, pois, na ausência do conteúdo da mensagem, o PT briga hoje para conseguir o espichamento do tempo de TV, ainda que para isso tenha que, sem pudores, fazer acordo com o diabo.

Para ganhar o tempo, o PT não perde tempo.

Mas perdeu os limites. Usufrui do poder que conquistou às custas de gloriosas lutas de seus históricos militantes, a maioria dos quais já caiu fora do barco, fazendo de todas as instâncias da administração um balcão para negociar apoio e extrair as verbas que lhe possibilitam pagar mensalões.

O PT perdeu a noção. E com isso está perdendo a nação.

Entre perdas e ganhos, temos um grande derrotado na atual disputa. Seja qual for o resultado das urnas, o PT será o maior perdedor dessas eleições.

sergio sayeg
Enviado por sergio sayeg em 19/09/2014
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