MARCINO E O HIPNOTIZADOR

MARCINO E O HIPNOTIZADOR

Cada época tem sua marca e suas características que a tornam inesquecível. A época em que fomos nadadores do Internacional ficou para sempre gravadas em nossos corações por ter umas peculiaridades super interessantes, personagens muito especiais e uma quantidade enorme de fatos que mudaram o mundo. A guerra do Vietnã, a pílula anticoncepcional, Elvis, Beatles, bossa nova, Rolling Stones, cinema novo, Quartier Latin, Cassius Clay, Pelé, homem na Lua e uma infinidade de acontecimentos e personagens que tornavam o dia a dia uma ebulição. Sem falar de James Bond, Garrincha, Cuba, guerra fria, etc. Tudo isso formava o caldo cultural em que vivíamos.

O Adalberto Mariani era uma pessoa muito especial, com uma, na época, já longa carreira dedicada à natação, como técnico e como nadador. Conseguia ser orientador, amigo, ao mesmo tempo que curtia muito as novidades que nós, seus nadadores, vivíamos produzindo. Cada dia tinha uma nova notícia. Alguém tinha brigado, passado no vestibular, entrado no exército, mudado de clube, mudado de cidade, de estado, de país, de namorada, ou batido um recorde, inventado uma nova técnica de treino, etc. O João Augustinho e eu fazíamos yoga, o Vladi tinha iniciado o curso de Direito, onde o Niltinho já era veterano. O Adalberto, por sua vez, também inventava alguma coisa: 500km em três meses, um campeonato santista em que ele inscreveu todos os nadadores para quase todas as provas (teve prova com 05 séries!), adotou a idéia do João Augustinho para fazer os decatlos (dois ou três).

Um belo dia, já no final do treino, o Adalberto nos apresentou um homem. Era hipnotizador. Nós, cansados do treino, escutamos que o camarada pretendia executar uma experiência para testar se a performance na piscina poderia melhorar se o atleta estivesse em transe hipnótico.

O escolhido para ser testado foi o Marcino, nadador de borboleta, que estava em boa forma e era chamado de “motorzinho” devido sua energia ao nadar. Marcino sentou-se no banco do vestiário e o hipnotizador começou seu procedimento. Balançou um pêndulo em frente ao rosto do Marcino, dizendo aqueles chavões próprios do seu métier( você está com muito sono, adormecerá quando eu contar três, fará tudo que eu mandar, etc.). O Marcino entrou em transe, adormecendo. O cara então começou: “-Marcino, qual o seu melhor tempo nos 100m borboleta?”. Não sei se foi impressão minha, mas acho que o Marcino vacilou mesmo com os olhos fechados e respondeu à pergunta. Não lembro muito bem mas 1m 08segfoi a resposta.

O hipnotizador então afirmou: “-Marcino, você agora está sob meu comando e vai nadar 100m borboleta em 1m e 05seg, entendeu?” Aí sim que o Marcino engasgou. Mas, para não decepcionar o Adalberto, concordou. Subiu na baliza, aos seus lugares e vai! Resultado: fez um tempo de 1m e 12seg, muito pior que costumava fazer. O hipnotizador ficou com uma cara de tacho, o Adalberto nunca mais falou do assunto. Nós chegamos à conclusão que para melhorar de tempo a hipnose não funciona. Sem contar as gozações com o querido e saudoso Marcino ( que Deus o tenha).

Paulo Miorim

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 14/09/2014
Código do texto: T4962176
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