Pequenas Crônicas

Corria o ano de 1940. Eu com 6 anos estudava na Capelinha de São Roque. Um estudo rápido para entrar no Primeiro ano do Primário, do 5º Grupo Escolar, localizado na Rua 24 de Maio, na Vila Industrial, em Campinas.

Esse estudo rápido (creio que poderia ser equivalente a um pré-primário) era ministrado pelas freiras, Irmã Maria, Irmã Rita e Irmã Margarida, sempre com a supervisão do Padre Guilherme. Este tempo na Capelinha de São Roque foi muito bom, pelo menos para mim, pois quando entrei no 5º Grupo escolar eu já sabia ler e escrever.

Por que no Grupo escolar havia uma seleção feita pelas professoras do 1º Ano, A, B e C, então, em 15 dias eu já estava cursando o Primeiro Ano C, que era o mais forte.

Mas voltando à Capelinha, carinhosamente assim chamada por todos, aconteceu que as irmãs religiosas montaram uma quermesse, a fim de angariar fundos para as obras necessárias da instituição. Nessa quermesse, dentre outras atrações, estava a barraca de pesca. Cada peixinho a ser pescado tinha um número, que correspondia a um premio. Vale dizer que a cada pescada era cobrado 100 reis (ou 1 tostão, que era mais familiar a todos).

Depois de alguns dias, eu andava com os olhos devorando um caminhãozinho de bombeiros, vermelho, de lata, de número 37, que todos queriam pescar. Então num sábado à noite meu pai comprou dois cartões que davam direito a duas pescarias. E não é que na primeira pescada eu tirei o tal caminhãozinho de bombeiros? Foi um alvoroço total. O meu pai foi chamado pela Madre superiora. Ela perguntou a ele se eu poderia deixar o brinquedo emprestado, pois ele chamava muito a atenção. E na verdade era o único premio que valia mesmo a pena. Ela devolveria o brinquedo, dali há alguns dias, no final da quermesse.

Ai meu pai respondeu a madre superiora que não concordava, visto que sabia que eu vivia sonhando com aquele caminhãozinho. E ainda disse: “Se eu concordar com a Senhora o meu filho vai ficar doente”.

Fomos embora para casa e eu, naquela noite, dormi agarrado ao meu caminhãozinho de bombeiros vermelho, e ao cheiro daquele brinquedo, que parece que ainda hoje, passados muitos anos, eu ainda sinto o aroma daquele verniz tão gostoso.

Laércio
Enviado por Laércio em 22/08/2014
Reeditado em 22/08/2014
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