Feliz Reencontro

Ela estava no corre corre de sempre, e, caminhando pela avenida São João, indo nem sei para onde resolver as muitas questões de sua vida. Foi quando ela o avistou. Na beirada da calçada, quase na guia, em estado deplorável. Ficou chocada. Sangrava nem se sabe por onde, um dos olhos parecia quase pendurado, e um fio de vida era denunciado pelo seus gemidos e uma letárgica movimentação, dolorida, decerto.

- Meu Deus, será que alguém bateu tanto assim nesse bichinho?!

- O que será que aconteceu? Ninguém viu, ninguém fez nada?

Queria fazer algo, mas o que tinha a resolver, era com hora marcada e já estava com pouco tempo. Seguiu seu caminho revoltada e com o coração doído de ver aquela situação e não poder fazer nada. Seguiu com a cena na mente.

Ao voltar, viu o cachorrinho agasalhado numa caixa de papelão e um potinho com ração junto. Mais aliviada pensou que alguém pelo menos havia se preocupado com ele. Não ia fazer nada, mas de coração queria que alguém cuidasse daquele bichinho. Ficou vários dias pensando naquela situação até que o tempo, santo tempo ou santo remédio, que tudo cura, apagou-a de sua mente. Passaram-se o que? Uns seis meses mais ou menos. E ela tinha uma cachorra, a Flyg. Disseram-lhe que precisava por a cachorrinha para cruzar pelo menos uma vez para preservar a sua saúde. Como ela já passara três vezes por gravidez psicológica, decidiu procurar um cachorrinho para cruzar com a Flyg. Avisou as crianças para que ficassem atentas aos cachorrinhos que vissem passeando na praça, e perguntassem aos seus donos se havia interesse. E ela faria o mesmo. Tentou algumas vezes e não conseguiu. Então já estava quase desistindo. Uma bela tarde, as crianças chegam em casa com uma senhora e um cachorrinho todo serelepe, peludão, cheirosinho, que rapidinho se ambientou no clima de casa, se familiarizando com a Flyg.

- As crianças disseram que a Senhora quer cruzar a sua cachorrinha...

- Sim

- Olha eu trouxe o meu, mas nem sei se ele é fértil. Esse meu cachorrinho tem uma longa história. Encontrei ele na calçada da Av. São João há uns seis meses e resolvi cuidar dele. Ele tinha sido atropelado por um carro e estava muito mal. Levei ele no Hospital Veterinário da USP. Ele perdeu um olho, tem um de vidro, mas cuidei dele com carinho, e ele agora está bem.

Só não sei se é fértil. Ela, imediatamente se lembrou da cena na Av. São João, e teve a certeza de que era ele. Agradeceu a Deus. E teve a pretensão de pensar que Deus, ou quem sabe o cachorrinho, viera lhe avisar. Mostrar que fora atendida em seu pedido. Que o cachorrinho que estava bem. Que emoção, que alegria, quanta gratidão ela sentiu!