Mentira tem perna curta

Alfredo, marido de Lilica, gostava de agradar a esposa e toda vez que chegava perto de casa tocava sua corneta, pois sua esposa dizia que gostava de ouvi-lo tocar.

Certo dia, Alfredo ficou muito rouco no trabalho e voltou sem voz e não conseguiu tocar a corneta para agradar a esposa e, ao chegar abriu a porta e saiu procurando a esposa. Ao abrir a porta ouviu um barulho enorme dentro do quarto. Saiu correndo em direção ao quarto e quando entrou, tropeçou em uma bota enorme e foi acendendo logo a luz.

Lilica deu logo um jeito de chutar a bota pra baixo da cama dizendo que era sua bota, mas primeira coisa que Alfredo viu foi o armário de roupas caído ao chão. Ela ficou confusa para explicar como o armário havia caído: ora dizia que ele caíra pelo peso das roupas que teria passado e ao colocá-las ao armário veio ao chão, ora explicava que ele quebrara o pé e caíra. A cada momento uma explicação diferente para aquela situação.

Dentro do armário estava um folgado que se escondera às pressas ao ouvir o marido chegando e o safado era muito pesado, o coitado do armário não suportou e veio ao chão. Dentro do armário, mal acomodado e ainda por cima só de cuecas e tremendo de medo, tentava ficar calmo sem conseguir. Pensava: "Se Alfredo, que era calmo, virasse um leão, um urso, qualquer bicho e ficasse mais forte que eu?" Começa a sentir um cheiro estranho e ao passar a mão na cueca sente que fez o que não devia, porém era melhor suportar aquele cheiro ruim do que enfrentar o marido que com certeza iria virar um bicho e ele poderia ficar em pedacinhos.

O marido tenta levantar o armário e a mulher desmaia, quando ele para ela volta a si e assim foram várias vezes seguidas. Depois ela pediu para ele não levantar o armário sozinho que poderia quebrar os pulsos era melhor chamar os bombeiros. O marido disse que não precisava chamar ninguém ele era forte o suficiente só iria pegar uma faca.

A mulher ficou branca, amarela, azul e pediu para ele não fazer isso, mas ele pegou a faca e foi em direção ao quarto. Tremendo como uma vara verde, Lilica implorava e Alfredo sem dizer nada e muito menos entender o desespero da esposa, pegou um pano e começou a cortar em tiras e foi amarando nos pulsos. Aliviada por não ser um assassinato, abraça o marido e insiste em chamar os bombeiros. Ele tenta levantar o armário novamente e, por mais que insistisse não conseguia, estava muito pesado e o jeito seria aceitar a sugestão da mulher.

Lilica saiu correndo o mais rápido que pode para chamar os bombeiros, pois seu amante era bombeiro e estava preso dentro do armário de roupas e poderia virar comida de minhocas. Chegam os bombeiros fazendo o maior barulho para o amigo saber que a ajuda estavam chegando. Pediu para o marido e a mulher que saíssem do quarto, pois o armário poderia cair por cima deles. Mais que depressa Lilica saiu puxando Alfredo para a cozinha lhe oferecendo café para liberar logo o quarto e seu bombeiro ser salvo. Eles retiraram o companheiro daquela enrascada e rapidamente o safado vestiu sua roupa de bombeiro que estava embaixo da cama escondido.

Quando ia saindo, o marido de Lilica fez questão que eles fossem à cozinha tomar café e percebeu que um dos bombeiros tremia muito e estava com um cheiro meio estranho e perguntou se ele estava passando mal. Ele disse que precisava ir ao banheiro e realmente teria que ir ao banheiro, pois estava com cheiro muito desagradável.

Quando saiu um pouco menos tenso e pronto para ir embora o marido lembra que eram dois bombeiros e pergunta meio confuso porque chegaram dois bombeiros e agora saiam três e porque ele estava tão nervoso. Uma vizinha que acabara de chegar e já estava espionando tudo, concorda e diz que também observou isso que eram dois e saíam três.

Lilica tentava desconversar e de nada adiantava eles insistiam no assunto para saber da estória de dois que viraram três. Sem saída começam a inventar uma estória para seu amigo não se dar mal, pois a desconfiança já havia tomado conta da cabeça de Alfredo. E um dos amigos resolveu mentir descaradamente dizendo que seu amigo pulara a janela para chegar mais rápido, que os bombeiros são assim um ajuda o outro não importa a situação.

Situação contornada, marido conformado com desfecho da estória então conseguem ir embora e livrar o amigo. Agradecido e zoado pelos amigos paga cerveja em forma de gratidão por tê-lo salvo.

Enquanto isso na casa de Lilica mais uma descoberto de Alfredo. Acha umas meias que não são suas ao lado da cama e exige uma explicação. Ela se faz de indignada e diz que o coitado do bombeiro tirou as meias e as botas para conseguir firmar os pés ao chão na hora de levantar o armário e deve ter calçado as botas e esquecido as meias.

Alfredo olhou bem as meias e estavam tão gastas que resolveu pegar uma de suas meias para Lilica levar de presente para o bombeiro, pois seria uma forma de agradecê-lo. No outro dia, ao sair para trabalho, lembra a esposa para levar as meias de presente ao bombeiro.

Só que Lilica foi e não voltou mais, foge de casa levando não só as meias do bombeiro, mas também suas roupas. E quando Alfredo chega em casa não encontra Lilica nem suas roupas, lembra do que ocorrera no dia anterior, e começa a ter certeza que fora enganado.

Vai até a gaveta da cômoda, pega sua arma e sai em direção ao posto dos bombeiros enfurecido. Entra e sai procurando o bombeiro que surgiu do nada em sua casa, determinado a matá-lo. Alguns bombeiros tentam acalmá-lo e Alfredo fica cada vez mais bravo, saca o revólver e aperta o gatilho em direção ao suspeito que aparece sem saber o que acontecia. Mas a arma não funciona, ele esqueceu que estava sem munição e então partiu para a agressão física.

Os bombeiros todos saradões segura o agressor que descontrolado começa a chorar como criança e a chamar por Lilica. Ela fica sabendo o que acontecera e arrependida volta pra casa como se nada tivesse acontecido. Logo chega seu marido com uma mulher e finge que não a vê na casa ignorando-a completamente. O marido dorme no quarto onde tem duas camas de solteiro com a outra e ela não se conforma e tenta espiona-los dentro do quarto. Mas toda vez que tenta espionar, o marido abre a porta e a pega no flagrante. São vários dias de tormento e seu marido e a outra finge não vê-la na casa.

Um dia ela descobriu que aquela mulher que parecia amante do marido era sua cunhada, então tentou convencer a cunhada a ajuda-la reconquistar seu marido. Conseguiu reconquistá-lo, mas sua cunhada agora ficou morando com eles. Melhor garantir a confiança que depositara em Lilica _ pensa Alfredo. Ela se sente vigiada, mas para merecer o perdão do marido vale tudo e por precaução agora ele só toca sua corneta quando já está em casa.