Fora Felipão

Nesta Copa do Mundo dei-me o luxo de assistir a quase todos os jogos. Primeiro porque gosto da copa, segundo era no meu país. A nossa derrota de 7 x 1 para Alemanha e 3 a 0 para Holanda mostrou quão frágil é nossa emoção. A carranca da presidenta Dilma ao entregar a taça aos campeões alemães mostrou que não aceitamos perder no futebol.

Aqui em Buenos Aires a cidade está recém saída da copa e do final da novela Avenida Brasil. Nossos artistas globais Débora Falabella, Adriana Esteves e Cauã Reymond vieram receber as merecidas homenagens. Fotos do jogador Messi, o deus do futebol argentino, enfeitam a cidade. O papa também é argentino mas não vi fotos do representante de Deus.

Neste ano morrerão cerca 46 mil brasileiros no trânsito. O espetáculo ‘ola’ nos estádios é feito de braços unidos num movimento sincronizado de levanta e abaixa. No próximo jogo essas 46 mil pessoas não participarão da ‘ola’, não mais sorrirão nem farão sexo. Que pena!

Podemos ser assaltados ou assassinados por um sujeito de 17 anos de idade. O assassino olhará para sua vítima estendida no chão e sairá assoviando, em qualquer rua, em plena luz do dia. Se um policial o abordar, o assassino sacará sua certidão de nascimento confirmando sua pouca idade. Se o policial insistir em prendê-lo, o policial poderá ser preso e perder o emprego ‘a bem do serviço público’ por estar atrapalhando o crescimento de um adolescente.

Antes de cada jogo ouvíamos os hinos das outras seleções que falavam de sangue, montanhas e vitória. Ouvi a todos com respeito e contrição mas não me emocionei nem marejei os olhos. Essa minha indiferença talvez seja porque nenhum deles tenham a frase ‘deitado em berço esplêndido... ó pátria, Brasil’.

Na última avaliação do PISA – Programa Internacional de Avaliação de Estudantes – aplicada a estudantes na faixa dos 15 anos, idade em que se pressupõe o término da escolaridade básica obrigatória na maioria dos países, o Brasil ocupa vergonhosos 55º lugar no ranking de leitura, 58º no de matemática e 59º no de ciências. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, na educação somos o 38º entre 64 nações no teste de resolver problemas de lógica e raciocínio. No futebol somos a 4ª melhor seleção do mundo. Quando deveríamos dizer ‘fora Ministro da Educação’, num grito sincronizado gritamos, ‘fora Felipão’.