UMA VIAGEM INTERIOR

Estamos num processo de convivência constante em nossas vidas.

Convivemos com alguém em nossa casa, família, trabalho, esporte, estudo, a turma de passeio, e cada um deles, assim como nós, conserva lembranças que não gostaria de reviver.

Passamos momentos árduos que preferíamos que tudo se esvanecesse de nossas vidas e de nossas recordações. E dependendo da forma com a qual mexemos nessas feridas podemos torná-las tão doloridas quanto antes. Por isso, precisamos entender e respeitar o silêncio do outro.

De nada adianta querer forçar ou explorar as inflamações de alguém. Quando ele estiver pronto e achar que é o momento certo, ele abrirá seu coração. O tempo certo, a hora certa de se fazer isso, somente aquele que carrega o fardo saberá.

Às vezes, queremos resolver os problemas dos outros, arrumar a vida de alguém; queremos que uma pessoa aja de determinada maneira, e nossa vida está toda bagunçada. Cobramos do outro uma postura que ainda não temos.

Queremos que alguém se comporte com respeito e tolerância para com o nosso modo de ser e agir e, no entanto, somos verdadeiros invasores da privacidade alheia e exemplos de intolerância.

Como posso cobrar de alguém aquilo que ainda não sou? E mesmo que eu já tenha adquirido tal virtude ou nível entendimento, não tenho o direito de obrigar que o outro a tenha. Precisamos entender que cada um tem o seu tempo; é o tempo de cada um.

Ao mexermos nas feridas de nossos irmãos, poderemos despertar neles reações diversas e adversas. Poderemos constranger alguém quando não o deixamos que seja ele mesmo. Daí, necessitamos do devido cuidado com nossa fala, nossos olhares, nossos comentários, nossas brincadeiras, nossos risos sarcásticos e debochados que muitas vezes ferem tanto quanto ou mais que uma agressão física.

Deixando transparecer em seus semblantes saudades de momentos felizes e pesares por momentos revoltos, irmãos nossos querem continuar a caminhada, mas hesitam em caminhar e voltam seus olhares para o passado, onde algum acontecimento deixou marcas profundas.

Por várias vezes, queremos sair às pressas na impressão de querer fugir de alguma lembrança, como se isso fosse possível. Devaneamos e continuamos sem escutar e entender nossos sentimentos e os daqueles que fazem parte de nossa andança, pois temos medo de olhar para dentro de nós, e por vezes diversas nos censuramos e não entendemos nosso jeito de ser e nem o proceder do outro. Sem entender essas características, ficamos desorientados.

Não se reprima. Uma auto análise, sem medo de se revelar, é um grande passo rumo à nossa libertação pessoal. A partir do momento que nos assumimos, do jeito exato que somos, estamos entendendo o “Conheça-te a ti mesmo” e conhecerás o Universo de Deus. E quando nos conhecermos, conheceremos e entenderemos o outro.

Conhecer a nós mesmos é olhar para nosso mundo íntimo, reconhecendo faltas, imperfeições. Porém, temos já algumas virtudes, e estas, aliadas a outras, canalizadas pela nossa vontade e desejo de transformação, devem ir corrigindo essas imperfeições.

Preste mais atenção em você, no que tem feito, no que pensa em fazer. Se aceite. Se encontre no meio da multidão e se abrace. Não tenha medo de se ver.

Através de uma fofoca, pré-julgamentos, ideias precipitadas e suposições descabidas, nos comprometemos com dramas variados por longos e longos anos. Não é que não devamos ouvir ou nos interessar pelos problemas de nossos congêneres. Precisamos fazer isso do melhor jeito.

Ao percebermos um comportamento diferente de um filho, um pai, mãe, amigo, vizinho, aluno, professor, companheiro de trabalho e até mesmo um desconhecido, saibamos que talvez essa pessoa esteja querendo falar. Talvez o que esteja desejando é apenas ser ouvido. Se dermos essa chance a alguém poderemos impedir suicídios, inserção no mundo das drogas, prostituição, brigas e tribulações variadas.

Ao notarmos qualquer desvio de comportamento não é preciso que obriguemos a pessoa a nos contar. Vamos deixá-la consciente de que estamos ali para ajudar e de que se não soubermos aconselhar levaremos ao conhecimento de alguém em quem confiamos, sem mencionar nomes, e que não vamos fazer da situação motivo de chacota e piada. A pessoa sentirá que poderá confiar em nós.

Busque inspirações no mundo superior para aconselhar alguém. Uma singela palavra proferida com carinho salva uma vida. São nas coisas mais simples que encontramos a verdadeira eficácia. Não precisamos de longos discursos, palavras longas e complexas; um olhar e um abraço são suficientes em muitos casos.

Não podemos mudar o passado, mas podemos fazer um presente diferente e compensar aquela dor que causamos a alguém, fazendo algo bom, de uma forma construtiva, relembrando aquela frase sábia do Apóstolo Pedro, em que ele nos diz “o amor cobre uma multidão de pecados”.

E se você, leitor amigo, alguma vez lesou alguém, é normal que se arrependa e queira parar com tudo. Mas essa não é a melhor saída.

Baseados em caminhos tortuosos, temos, às vezes, temor de seguirmos em frente e levamos uma vida desregrada em diversos sentidos tais quais, alimentação, sexo, espírito de equipe, companheirismo e espiritualidade. Até o dia em que, após nos conscientizarmos dos fatos reais de nossa existência, encontramos e encaramos as realidades. Começa-se aí um processo que vai mexendo com aquele mundo temido por muitos de nós: O mundo interno. E vamos percebendo que tudo que acreditávamos, até então, é muito pequeno diante da grandiosidade do que nos espera na conclusão de nossa jornada. Para tal fim é mister entender a importância de se viver o momento presente, prestando atenção em nossa conduta dentro do agora, pois é a única coisa real, uma vez que o passado já aconteceu e o futuro são ilusões e possibilidades.

Apesar de termos em nossas vidas as marcas do passado e as aspirações e ameaças do futuro, devemos nos focar no presente, uma vez que ele é presente, futuro e passado (Ele será o futuro, é o agora e tornar-se-á passado). E entender que tudo que nos acontece é caminho para descobertas e é necessário para se atingir o alvo, e que isso só se dá desde que reconheçamos nossas faltas e acertos e tenhamos novo proceder, tomando rumos diferentes daqueles que nos conduziram a circunstâncias mofinas, é equacionar e pautar nosso planejamento de vida rumo à glória.

A performance formidável na vida de grandes mestres se deve, em parte, ao fato da compreensão dessa condição.

Depois de todos os ensinamentos que recebemos ao longo de nossa

estadia nos reinos inferiores da criação e após sofrermos os acidentes por causa de nossa invigilância e dermos conta disso, estamos nos levantando para caminharmos rumo a meta de perfeição a que nos compete. Assim, estaremos preparados para um propósito maior, que é transformar nossas paixões inferiores em insignes ideais, servindo ao próximo, entendendo que um guerreiro não nasce pronto, ele se prontifica a se reconstruir através da observância de suas experiências e das experiências alheias e passa a fazer tudo espontaneamente, sem visar retorno. Ele faz simplesmente por que sabe que é o correto. Faz livremente...

Faça seu trabalho, sua faculdade, seu esporte, sua música, a história de sua vida não com a intenção de querer ser visto e idolatrado por isso, mas sim descubra uma forma de fazer tudo isso por amor e com amor. Faça sem esperar nada em troca e com espírito de ser útil, servindo com humildade, tendo a consciência de ser uma gota d’água formando o oceano...

Pensar que nunca seremos felizes, que nada vai dar certo, é pensar contra a Lei de Evolução e repelir a ideia de que fomos criados para que nosso destino final seja a felicidade sem mescla, encontrando o Reino de Deus dentro de nós.