Da Ladeira do Cansa Burros até à Burga...


 Da Ladeira do Cansa Burros até à Burga!
 
O Escritor Oscar Manuel Costa Correia, natural da Aldeia da Burga, ele se prepara para lançar um novo título no mercado das letras,  e com um nome bem sugestivo que me faz lembrar os ditos e dichotes do nosso Povo Aldeão, o das nossas origens comuns e das sempre lembradas Terras Altas Transmontanas.
A Aldeia da Burga, tanto pela sua localização geográfica, como pelo seu tamanho com apenas uma Rua principal ao lado do Ribeiro que nasce logo acima da Aldeia num lameiro onde tem uma Mãe D’àgua – fonte natural nascida das entranhas mais profundas da Serra de Bornes. O ribeiro atravessa a Aldeia no sentido Norte/Sul, ela tem um significado muito especial para mim pessoalmente e porque não dizer, para toda a minha família, já que a, Minha Mãe que Deus tem, Ela era da Aldeia dos Colmeais e tinha um Irmão, de nome Germano, que morava logo no princípio da Rua da Burga quando se vinha dos Colmeais em direção a Caravelas para subir a ladeira do Cansa Burros até à Estrada na curva do Cerdeirinho. 
- Lá pelos finais da década de 50 do Século passado, a JAE terminou a construção da  estrada que ligava Moncorvo a Bragança e que passava em Caravelas, mas não tinha ramal para a Burga naquele tempo!,  e então,  lá só se ia a pé, ou  de Burro, ou a Cavalo.  Até mesmo as juntas de bois eram raras porque a toponímica da Aldeia  extremamente acidentada, é uma ladeira sim outra não!... na ida,  e na volta era tudo a eito.
O caminho mais direito (plano)  que eu me lembra de memória, era na saída para o Vilar da Vilariça... um caminho estreito que mal dava para passar um carro de Bois e corria ao lado da margem esquerda do Ribeiro onde mais tarde construiram um Acude (já depois de eu ter emigrado) para represar as águas,  e assim abastecer no verão, as hortas que se espalham pelo Vale da Vilariça até Assares, Junqueira,  etc e tal e coisa.
Bom!... dizia eu que o Nobre Colega escolheu um título sugestivo para o seu novo Livro e... realmente é!
“Bem M’ou Finto”!... 
Uma expressão idiomática da nossa região Mirandelense,  que está também reproduzida no Livro do Estimado Amigo Jorge Lage, Co-Autor do título “O MIRANDELÊS” e,  contráriamente ao sentido ideológico da frase titular, eu me finto sim!...
-  Eu me finto e sei que os seus escritos terão aceitação por todos nós que acreditamos no sonho de cada um, que sempre pensa em levar ao mundo externo esta saudável recordação das terras que nos viram nascer.
Lugares onde abrimos os olhos pela primeira vez!... velhos e inesquecíveis caminhos por onde andámos em criança, e  sofremos as agruras de uma época de  minguados recursos, quase nenhuns proventos, escassos investimentos e muita esperança em dias melhores longe dali.
Embora pertença ao Concelho de Alfandega da Fé, as gentes dos Colmeais, e as da Burga ao Concelho de Macedo de Cavaleiros tinham naquele tempo mais tendência a ir à Feira a Mirandela e, pensamos nós, justamente por causa das Ladeiras que era preciso vencer a pé (na subida da Burga para Caravelas havia duas opções; uma era o caminho mais largo mas mais comprido porque dava a volta pelo fundo da ladeira do Cansa Burros, e outro caminho por onde só se subia a pé e puxava-se o animal pela rédea de tão inclinado que era... mas,  atalhava bastante... uma meia hora ou mais! )e por isso,  em dia de Feira de Mirandela a passagem pela Aldeia de Caravelas era quase obrigatória.
Já no finalzinho dos anos 50!... a empreiteira começou a construir a Estrada da Burga que tinha início do Ramal  no Cruzeiro da Estrada de Bornes, e os trabalhadores  vinham pernoitar em Caravelas quando, aos fins de semana, eles traziam a Camioneta!...
- Isto porque junto ao Cruzeiro só tinha um barracão onde se guardava um carro de alguém mais abastado da Aldeia cujo nome já se me escapa da memória e hoje,... quando olhamos o mapa lá do Alto da Serra, por ali vemos o IP2 que atravessa imponente a Ladeira da Burga e a do  Cansa Burros, onde outrora jogávamos rebolos de pedra ladeira abaixo, quantas vezes indo bater perto das casas que ficavam lá no fundo da grota encostadas ao Ribeiro.  
Para não me alongar muito nestas lembranças dos tempos já tão distantes, deixo-vos apenas este registro com a singela intenção de ajudar a preservar memórias das Nossas Terras Altas Transmontanas: e assim vos transcrevo aqui umas trovas minhas que trago ao pensamento de cada vez que olho para o Alto da Ladeira do Cansa Burros.
... Oh Minha Aldeia Transmontana!...
Que eu trago sempre na lembrança.
Tu tens uma beleza tamanha,
Que guardo desde cedo ainda em criança.
 
Nas Ruas da Minha Aldeia,
Onde eu corria em pequenininho...
Hoje só traga na ideia,
De lá voltar a andar devagarinho!
 
Silvino Potêncio (Março de 2013)          
 
 
Silvino Potêncio
Enviado por Silvino Potêncio em 04/08/2014
Reeditado em 10/12/2018
Código do texto: T4909917
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