Defensiva

- Sabe... faz dois anos que diz que me ama e eu continuo não acreditando.

Dizia deitado no colo, naquele quarto bagunçado, abençoado por umas réstias de luz do sol que entravam pela janela pela manhã ensolarada. Um sol de outono calmo que ameaçava deixar a gente cego com aquele branco.

Ela acariciava-lhe os cabelos sem dizer nada. Não precisava dizer. Engolia cada palavra por dizer para não começar a chorar. O dia estava lindo, não queria estragar o momento.

Levantou-se. Olhos castanhos encarando a boca avermelhada. Chegou mais perto, a trouxe pra mais perto ainda e a beijou.

- Tudo bem, tudo bem. Não precisa me amar.

Os lábios avermelhados tremeram. É claro que precisava. E amava, sim! Dizia a todo tempo, sentia o tempo todo. Doía saber como era o amor não ser reconhecido, correspondido, aceito. Estavam juntos, é claro, mas não era o bastante. Não pra ela. Queria ser amada, queria que soubesse que o amava, queria ter certeza de que iria durar mais que alguns encontros na madrugada, que a manhã não se ouviria apenas um "bom dia" enquanto se esgueirava pela porta de saída.

Sabia que, por um momento, podia dizer tudo o que sentia e ele não acreditaria em uma palavra. Sabia também que era sua defesa. Um dia acreditara demais e acabou se machucando. Voltou a acariciar o cabelo castanho claro, sorriu para si e mordeu os lábios para o "eu te amo" não sair de lá.

E não saiu, as madrugadas foram as mesmas até acabarem sem motivo aparente. Ela continuou amando, sem motivo aparente também. E ele continuou não acreditando.

Ana Eduarda
Enviado por Ana Eduarda em 08/07/2014
Reeditado em 08/07/2014
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