A longa estrada e um grande amor

A década de noventa, aproxima-se do fim. E naquela manhã de setembro, paro o "carango", ali, bem perto do "Bar de Onaldo" na Praia do Poço, uma das Praias da minha paixão, que, se estende as de Camboinha e a paixão mais antiga, é a amada Praia do Cabo Branco. Aqui, as Areias e Ravina da sempre, Praia do Poço...

Saí passo a passo, sapatos nas mãos, a barra da calça comprida, lambendo as areias, meus pés em festa, vão deixando as marcas na Beira do Mar...Os óculos escuros, decido dos olhos tirar, e nu, o meu olhar bebia as belezas daquele adorável pedaço de mar. E quando chegava a divisa com a Praia de Camboinha, decido parar, e sentar-me, um pouco na ravina que ainda resta... e, de olhar mergulhado no horizonte, fui te vendo de mim se aproximar e, de novo no coração e na alma te dei abrigo... E, teus belos olhos castanhos brilhantes, estavam cansados, perderam o brilho por anos e anos afio de olhar para o nada...

E os teus, ralos cabelos, ao que tudo indica, foram pelos ventos da solidão, açoitados... as tuas mãos, eu as encontro, agora sangrando e, teus pés feridos... o teu e o meu silencio, nos desnuda do tempo e, nos leva a uma conclusão: Os desenganos de há muito, invadiram nossas searas e, as águas doces do rio que nossa sede saciava, poluímos todas, com as nossas dores e, mesmo assim, exibíamos ao mundo nossas chagas, como se fossem flores...E, cada qual, seguia seu caminho por estradas paralelas, que nunca se cruzavam.

Nossos corpos envelheceram, nossas almas não sonham mais... Um dia que se encontra perdido no nosso passado, por orgulho, deixamos a esperança esperando, esquecida nesta beira de mar. E tu, por ai andando, perdeste da minha vida o trilho e, as minhas poucas ilusões, eu as afugentei, como se meus sonhos de repente fossem, apenas, pesadelos. A solidão a que, nos condenamos, permissivamente, nos levou a outros braços... mas, a solidão, sócia permanente da saudade, hoje nos curva os ombros. Em nós, há décadas admitimos, que instalada fosse, a Empresa do Orgulho, que o poder do amor desconhece, levando a falência todos os sonhos de uma vida, em comum. E este amor antigo andou conosco, atravessou terras e serras, corta mares e oceanos e, quebrando pedras, partiu as algemas depois de longos e longos anos, o amor em nós sobreviveu, fez nossos sonhos mutilados, ressurgirem dentre os escombros, nesta manha de setembro depois de quase... trinta anos...

E, aqui estamos de mãos dadas... entre o mar, areias, o surdo barulho das ondas e os nossos corações batendo no ritmo do amor que em nós, ainda, existe, graças a Deus, sobrevive...

Josenete Dantas
Enviado por Josenete Dantas em 08/07/2014
Reeditado em 24/09/2016
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