A Mulher Invisível

Minicrônica

A Mulher Invisível

Miniconto

27/05/2014

De repente sentiu que não era notada e muito raramente ouvida, para isso teria que dar gritos muito fortes.

Sempre fora uma pessoa discreta no vestir, mas decidiu ser extravagante. Decidiu ir a uma boate. Usou um vestido cheio de brilho, saltos altíssimos (altamente incômodos), caprichou na maquiagem e saiu cheia de balangandãs. Sentou em uma mesa sozinha e ninguém notou. Primeiro pediu refrigerante, depois cerveja, depois vodka. Resolveu dançar (a coluna começou a incomodar). Começou dançando de forma discreta, depois sambou, rodopiou de forma frenética até sentir taquicardia e mesmo assim não foi notada. Por qual razão ninguém lhe notara? Pensou que tivesse morrido e exausta foi pra casa dormir; dormiu como uma pedra.

No dia seguinte levantou ansiosa e foi olhar-se no espelho, se estivesse morta não veria sua imagem refletida. Viu um rosto enrugado, pálpebras caídas e uma cabeleira rala. Não tinha notado que envelhecera, tudo fora rápido demais.

Vestiu-se discretamente como era de costume, e foi ao banco pagar o IPVA do carro. Como de costume, também não fora notada por onde passou, nem na entrada do banco. Não morrera, mas era invisível. Ao tentar entrar no banco foi barrada na porta pelo detector de metais. Era uma mulher invisível, mas sensível aos detectores de metais.