Você chegou

Era um final de agosto. Eu oscilava entre a tragédia de uma perda e a dor de me saber parte de uma mentira. A tarde caía como tudo o mais. O barulho do mar ao fundo exaltava ainda mais a tristeza da minha solidão. Olhei rapazes que passavam no burburinho de brincadeiras. Neste instante o seu olhar cruzou o meu. Você se aproximou, mantendo o olhar fixo, apoiou-se em minha cadeira e, de cócoras, disse-me o seu nome.

Achei graça em sua ousadia, mas o simples tom da sua voz agitou meu corpo. Não sabia se pela semelhança do nome ou se pelo verde dos olhos ainda mais vivos sob a luz do dia.

Conversamos sem dar conta de que o dia despediu-se e o cheiro bom da noite tomava todos os espaços. Os amigos que com você estavam sumiram na areia e você, sem pressa, acompanhou-me até o apartamento. Despedimo-nos com a promessa de nos encontrarmos para o jantar. Você, num sorriso que me encantou desde o princípio, fez-me prometer que me juntaria ao grupo no horário combinado.

Não sei se por querer cumprir o que prometera, pela solidão que sentia ou pelo magnetismo impressionante que vinha de você, cheguei no lugar e hora combinados. Trazia comigo meus filhos, garantia de que nada além de um jantar aconteceria.

Você, ao me ver chegar, sorriu. Algo, em sua figura, chamou minha atenção. Parecia conhecê-lo de tanto tempo. Sua fala mansa e voz grave me fizeram um bem imenso.

De volta do paraíso, continuamos a nos encontrar. Os dias passaram e você entrou em minha vida, aos poucos, mas de forma permanente. Desde o primeiro instante, trouxe verdade nos olhos, calor nas mãos e aconchego nos braços. Nunca pensei em conhecer um sargento do exército americano tão paciente, tão carinhoso... Um americano tão brasileiro. Um ser sem igual: tão jovem e tão maduro; firme e doce; sincero e encantador.

Em tão pouco tempo conquistou meu coração. Passei a viver dos encantos de nossos encontros. Ocupou todos os espaços e alegrou minha tristeza mais profunda. Em pouco tempo, era o meu porto seguro para o qual podia voltar das minhas loucas viagens. Entendi, assim, que a vida conspira e nos faz encontrar, às vezes na tristeza que de nós se acerca, a felicidade. Não fui buscar, mas você chegou. Na sua chegada aprendi que não amamos o que buscamos, simplesmente o amor nos aparece sem que o procuremos e vem de onde menos se espera.

Hoje, faltando tão pouco para que eu receba o presente de levar comigo, no orbe terrestre, o seu sobrenome, vejo e sei, pela experiência, que existe sempre algo melhor nos aguardando depois do longo e árduo caminho. Amo você e amo ainda mais a vida que de nós sinto fluir quando estamos juntos. Você veio compensar minhas ausências, meu sofrimento, minha sinceridade punida.

Posso concluir que o amor não se explica e é imutável: impossível deixar de amar quem tanto se amou. Acredito um pouco mais nas pessoas e na força que delas vem. Creio um pouco mais que o amor de fluídico nada tenha e que seja a única força capaz de nos tirar do egoísmo extremo a que somos impelidos pela dinâmica social cotidiana.

Sol Galeano
Enviado por Sol Galeano em 11/06/2014
Reeditado em 11/06/2014
Código do texto: T4840847
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