O duelo do século rebatizado: Massacre do dia 23

Diogo, aquele que era escolhido por último na educação física vs André, aquele que perguntava “pode dupla de 3?”

Não era palestra, aulão ou final de intercolegial, mas a arquibancada da escola estava lotada numa sexta-feira após o turno da manhã. Nem o cansaço por seis tempos de aula ou a alegria com a chegada do final de semana fizeram com que os alunos fossem embora correndo, como seria de costume. O motivo? Um duelo de basquete, 1 x1, meia quadra, 20 pontos, entre o professor de Português/Redação e o de Educação Física/Ginástica.

Diogo, acima do peso e com jeito de nerd, só queria participar um dia da escolinha de basquete promovida pelo professor André, mas o desejo não foi atendido. Assim, o jovem letrado desafiou o experiente guardião das quadras.

Inicialmente, todos pensaram se tratar de brincadeira, mas a possibilidade de um duelo real caiu no gosto de professores e alunos. Ao longo das semanas, era um dos assuntos preferidos nas salas e corredores. Para animar, alguns promoveram até mesmo apostas envolvendo corte e pintura de cabelos ou pequenas quantias.

O confronto havia sido marcado para a semana passada, sexta dia 16, mas André alegou um inchaço nos dedos indicadores que o impossibilitaria de jogar. Como irreverência é a marca de muitos professores, chegou-se a cogitar que o mestre de ginástica bateu de propósito com a porta do carro em suas mãos temendo o desafio que chegava. Já que Diogo não queria ter seu sucesso ofuscado por vencer um indivíduo nas condições de para-atleta, aceitou a remarcação do jogo para a semana seguinte.

Para oficializar o evento, Diogo preparou um contrato com as regras e outros procedimentos para o jogo. André não aceitou assinar, pois o juiz estipulado não o agradou, mesmo sendo o chefão de ambos. Assim, o literato elaborou uma nova via do documento que André prontamente assinou. Só não contava com a cláusula “a partida começará com vantagem de 18 pontos para Diogo”. Lógico que a gozação foi geral. Cabe lembrar que o jogo começou do 0 a 0, a tal cláusula não passou de brincadeira.

Enfim ia se aproximando o dia do confronto. André contava vantagem, dizendo como seriam seus pontos, chegando a falar até de uma enterrada. Algo bem difícil de acontecer, visto que o elemento ainda usa roupas da seção infantil. Diogo mal se manifestava, pautava suas falas pela humildade.

No dia do jogo, a quadra lotada. Mais de duzentos alunos em polvorosa. Notava-se que a torcida a favor de Diogo era bem maior, e ele se aproveitou disso. A cada ponto, posava para fotos, mandava beijos, ia para a galera. Foi assim durante bastante tempo, visto que o professor de Redação dominava completamente a partida: não demorou muito para fazer 11 a 0. Perdeu duas oportunidades claras de ampliar, ainda bem, porque fazer 15 a 0 seria demais.

Para o duelo não perder a graça, Diogo relaxou e permitiu que André fizesse alguns pontos. Porém, isso não durou muito. O nerd que era excluído na escola e sofria bullying pediu uma pausa, bebeu dois goles de água e jogou o resto em sua cabeça. A torcida foi ao delírio, pediu até que ele tirasse a camisa. Depois, fez a cesta final e se jogou na galera. 20 a 11, resultado final. “Só não enterrei porque seria humilhação”, diz ele. O montinho da vitória.

Palavras de alunos:

“Mítico”

“Épico”

“Um dos dias mais felizes da minha vida”

Vou lembrar disso daqui a 20 anos”

“A maior vitória nerd de todos os tempos”

Atualização

Dias após o duelo, agora conhecido como "O massacre do dia 23", surgem informações de bastidores que valorizam ainda mais a vitória de Diogo. Segundo fontes, André tinha um plano para acabar com a partida caso estivesse perdendo por uma grande diferença de pontos. Pelo que foi informado, ele passaria suas mãos enrugadas pela idade em seus cabelos grisalhos para que alguns torcedores invadissem a quadra. No entanto, como seu estado psicológico mediante tantas cestas adversárias estava debilitado, ele simplesmente se esqueceu.

Além disso, o professor que ocupa seu tempo fora da escola em aulas de hidroginástica para idosos não aceitou pagar a aposta, já que perdeu o duelo. Durante entrevista enquanto saía da piscina, André irritou-se com a pergunta sobre o pagamento do almoço combinado. Ele chegou inclusive a atirar suas boias de braço no chão. Lamentável.