Bia

Eu poderia abrir o texto discorrendo sobre tanto sua beleza singular, quanto das suas qualidades extra-carnais, falando da sua áurea e alma, que, se minimamente atento a esse fator, dá para qualquer um perceber o quanto ela tem a oferecer no quesito. E é mesmo uma pena não startá-lo com esses fatores, tamanho o manancial, e o merecimento da personagem.

Mas a proposta não é homenagear uma pessoa pura e simplesmente, mas embutir na mensagem os aplausos a uma atitude, pelo que se tem visto no seio das famílias, quase rara.

A conheci, para os que acreditam, meio que por acaso – eu duvido muito que acasos existam -, quando se encontrava, juntamente com seu adorável esposo, entre amigos meus, e seus em comum, com os quais permaneci por toda uma tarde. Mas, distraído com as brincadeiras, prestei inicialmente apenas alguma atenção nela, por que notei uma enorme tatuagem na sua região lombar, lhe fazendo algumas perguntas sobre a razão da mesma, quando lhe ouvi dizer o que justificava o desenho no seu corpo, em grande parte dele – uma tartaruga, e passei a lhe observar com mais atenção, até que ela coroou minha desconfiança de que se tratava duma pessoa especial, depois duma manifestação sua diante duma analogia que eu fazia para chamar a atenção dum amigo, meu e dela, acerca da importância de se procurar conviver o melhor possível com nosso semelhante, para evitar vexames irreparáveis no futuro.

No momento da tal falação, ao me ouvir pedir a atenção do nosso amigo, disperso que este estava quando tentava fazê-lo acabar com uma zanga que nutria contra outro amigo nosso, usando a tal analogia, mas que com base num evento vivido por mim, a conclusão de tratar-se não duma menina boba, de 21 anos, mas duma mulher madura, e de alma boníssima, veio ao lhe ouvir dizer: Pode falar. Que se não servir pra ele está servindo pra mim.

Foi batata: resolvi ali que escreveria sobre ela.

Não faz muito tempo que escrevi dois textos, O Aniversário e o Corte de Cabelo, e O Souvenir, nos quais falo sobre o encanto que é saber que a instituição Família, ou melhor, que o sentimento dos filhos para com os pais ainda resiste à extinção no âmbito do lar. Apesar disso não é de hoje nem de ontem que se houve nos noticiários, que filhos têm matado os pais, por causa disto ou daquilo, como que houvesse justificativa para tal insanidade. E o que tem acontecido entre irmãos, então...

Dando uma pausa, é importante dizer que minha esposa, que decidiu, e me aporrinhou, por seis meses, do amanhecer ao anoitecer, para fazer uma tatuagem com meu nome nas costas, mesmo determinada que estava, chegou em casa se queixando da dor intensa que sentiu. E estou falando aqui duma palavra de apenas seis letras, Franco. Mas, considerando a fragilidade do gênero, quando está apaixonado ou mesmo que amando intensamente, a atitude até que é bem comum: o beijo molhado diuturnamente; a transa intensa, com múltiplos orgasmos; as juras mutuas de amor; entre seus similares, pode se dizer que justifique a loucura quando o assunto é marido e mulher.

Mas você se recorda que a tartaruga desenhada no corpo da personagem do texto, é dessas marinhas dado o tamanho da arte - o que deve ter doído algumas centenas de vezes mais que a da minha esposa. Mas que a pintura também foi em uma homenagem a uma pessoa, você está sabendo agora.

E dizer que diante da questão família, tão enfatizada acima, não seria dificil você concluir que se trata duma honraria à mãe, ou ao pai, por, quem sabe, tantas vontades feitas, seja no tênis da moda que sempre recebeu a hora que se quis, ou do show da banda preferida que nunca se impediu que fosse; ou mesmo dos passeios simples permitido com as amigas; ou até da permissão para que namorasse tão cedo, e entrasse a hora que quisesse para dormir, entre outros mimos, naturais de muitos pais aos filhos. Só que não é. Nem ao pai, nem à mãe - apesar de expressar muito amor por sua genitora. E melhor: não se sentiu tanta dor por causa de mimos. Mas pelo rigor da criação que recebeu...

...Da Irmã - que é fanática por tartarugas!

Pois é, eu também fiquei bobo. Onde já se viu homenagear alguém, ainda mais uma irmã que nos deixou de castigo; que não deixou a gente se divertir, e só nos proibiu, e proibiu, e proibiu...?! Pois minha personagem já! E ela não viu, ela homenageia. Homenageia sua irmã mais velha por tê-la impedido de perder a oportunidade de se tornar a pessoa, a mulher que se tornou. Ou por não tê-la permitido que se perdesse. Como se perdem tantos jovens por não ter tido uma irmã mais velha, ou mais nova, por que não, que lhe pusesse de castigo.

Mais acima digo sobre a alegria de saber, conforme a Cristiane, em O aniversário e o corte de cabelo, e a Roberta, em O Souvenir, que nem tudo está perdido no quesito respeito aos pais.  Mas é imensurável a alegria de tomar conhecimento, e de conhecer pessoas que ainda respeitam e amam seus irmãos, pelo amor, ainda que com o rigor – necessário, com que lhes educou, pois tem-se concluído ter sido fundamental para que se tenha seguido em frente, e dignamente, na vida.

- Como amo essa moça, que atende por Bianca Borges, por não ver meus sentidos enganados ao lhe observar naquela tarde, e ver confirmada minhas intuições, no dia seguinte, exatamente como percebido no primeiro ato.

Bia, não, não é você que deve ter prazer em ter me conhecido. Mas foi eu, por pessoalmente, e a sociedade, as famílias, através desse texto, pelos valores que você resgata, quem ganhou um presente em ter te conhecido, guria...

Parabéns!!!