ASSASSINARAM MACHADO DE ASSIS

(Desta vez o “Assassinato de Reputações” foi longe...)

A partir da aprovação da linguagem coloquial nos trabalhos escolares e da aceitação do vernáculo vulgar e degenerativo da Língua Portuguesa no Brasil, propõe-se uma postura desalinhada e casual como o da vaca que atenta ao pasto que lhe interessa se atola no brejo.

Cria-se assim ambiente propício à indolência e ao desalento, por acatar a preguiça e não incentivar a postura. A lei do menor esforço que transformou o Latim em Vulgar e que de uma de suas ramificações somos herdeiros, prepara-se mais uma vez para fazer História. Só que da anterior, pelo contexto cultural e civilizatório, era compreensível, mas agora como alegar redutos do linguajar por falta de comunicação entre as aldeias, vilas e cidades?

Este destrambelhamento da palavra leva à permissividade nos relacionamentos da sociedade, já que há um relaxamento na postura e os limites que deveriam ser respeitados nas relações interpessoais e hierárquicas vão para o “brejo”. Talvez por isso mesmo tenhamos diariamente notícias de falta de respeito aos pais, professores e professoras sendo agredidos por alunos, para tomar os exemplos mais próximos de nosso assunto. Por mera coincidência ou não esse “modus operandi” faz parte da desestabilização de um povo em sua identidade como Nação e até poderia ser o primeiro item pós-decálogo de Lênin.

Aprovado pelo Ministério da Cultura, através da Lei Rouanet, um projeto de “reescrever” os clássicos de nossa literatura para uma linguagem mais “entendível” pelos nossos jovens que se expressam com escassez de vocabulário e economia de conjugação verbal. Talvez até esteja eu com certa propensão ao exagero, mas o que estou interpretando é justamente que o projeto tentará rebaixar a riqueza da obra à pobreza de seus leitores. Ao invés do estudante ir à obra e nela se enriquecer é a obra que vai ao estudante para nele se desfazer.

Quisessem difundir a obra e torná-la compreensível que a fizessem com frases e parágrafos comentados, com sinônimos, antônimos, comparações, críticas fundamentadas. E estão logo começando com um de nossos maiores escritores que é Machado de Assis, que com certeza está a se revirar no túmulo por se sentir assassinado em sua reputação. Desta vez, doutor Tuma, o Assassinato de Reputações foi longe demais... Estão assassinando a Língua Pátria e o seu acervo.

E para “cristo” nada menos do que uma obra do Fundador da Academia Brasileira de Letras e autor reconhecido internacionalmente equiparado a um Flaubert ou a um Dostoievski.

Em breve, devemos ter também alguma outra pérola de literatura genuína transformada em “pé-de-boi” para atender, não a uma demanda de mercado, mas ao oportunismo de faturamento e de locupletaçâo de pessoas que sabem que seus projetos serão analisados por pessoas lenientes e talvez até com interesses outros, senão coniventes entre si.

Para citar só dois exemplos, quero ver reescreverem com outras palavras as palavras que não têm outras palavras como as dos livros de Guimarães Rosa... Ou se o atrevimento romper fronteiras reescrever livros com linguajar próprio como os de Gabriel Garcia Marquez, antecipando pelos meus cálculos uns “cem anos de escuridão”.

Por favor, o último a sair não precisa apagar a luz, ela já está sendo apagada...

Armando Valenzuela
Enviado por Armando Valenzuela em 09/05/2014
Código do texto: T4800761
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