A NOITE DO MEU BEM

Hoje faz domingo no coração dos homens. Há um macaco escondido atrás da banana dedicada a cada um de nós, duvido certeza seja outra, há um cacho de bananas atrás de um dono em cada um de nós.

O apresentador da televisão permanecerá na luta contra o racismo, ou, por ser moda, isso passa? A indignada socialite pousará de Carmem Miranda até que a intolerância cesse? O cantor de afinação duvidosa e sucesso caudaloso guardará essa face de protesto até que dia da semana que vem?

Quando a banana for pro tacho e virar bananada, alguém colherá o louro da prosódia:

– mas eu mostrei, naquele dia, que era contra o racismo!

Um jogador comeu a banana e isso todo mundo viu, e mundo aqui não é mera força de expressão, e no basquete americano deu no mesmo, a banana ao racista, e isso todo mundo viu.

Da piada do dia-a-dia, quem não riu?

Eu não sou macaco: posto fato é um fato, então as mulheres não são homens, mas o início do texto, tradicional como só, coloca as mulheres na história: contemplados estamos por aquilo que não somos. Jamais seremos.

A flor fez do homem um sedutor machista. O buquê fez da mulher uma prisioneira feliz. Alegria é aquilo que os outros vêem, sonambulismo à parte: nem todas as mulheres ficaram felizes – as autênticas que o digam; tampouco a sedução depende da flor. Dependesse, seria então o homem a primavera.

Homem é homem, mulher é mulher: ainda que seja por mera opção.

Macaco eu não sou. Que seja você, então, que não sabe:

– mas eu mostrei, naquele dia, que era contra o racismo!

E agora? Porque cortejar o gesto de quem atira banana aos macacos-humanos faz de nós um humano-macaco, isso é óbvio, isso é fácil. E agora, que a moda passou? E agora, que a banana foi pro tacho?

Fazei-me a noite das noites, quem por mim chama-me amor. Amar nem é tanto, senão como pode o sacode, senão pelo gesto de amar? Apaga a noite, amor meu, apaga... Vê que há estrelas sobre nosso tempo, vê que agora um silêncio passa pela felicidade das horas, vê assim como quem vê por mim.

Exceto por aqueles que recebem de nós as bananas. Pena que nem todo dia seja dia de moda.

Pena mesmo.