Yes, we banana

Yes, we banana

Na sua primeira eleição para presidente dos EUA, o afro-americano Obama tinha como slogan “Yes, we can”, querendo dizer que o povo tinha sim a capacidade para mudar o panorama de crise que o país e o mundo inteiro enfrentavam. O próprio Obama se incluía como agente nessa busca por mudanças, mas também, para ele e para milhões de americanos – que tanto sofreram com racismo -, a frase que era repetida diversas vezes queria dizer que um negro podia ocupar o cargo máximo da nação mais poderosa do mundo.

Figura carismática, Obama ganhou a simpatia de pessoas pelo mundo todo. No Brasil não foi diferente. Com o tempo, muitos brasileiros incorporaram o slogan da campanha em seus cotidianos com o objetivo de superar quaisquer adversidades. Mais adiante, surgiram até paródias bem humoradas. Quando o Rio de Janeiro ganhou o direito de ser sede das Olimpíadas de 2016, superando, por exemplo, Chicago, nos EUA, espalhou-se pela internet a frase “Yes, we créu”, incorporando um termo do funk de conotação sexual e muitas vezes utilizado em estádios de futebol. Além disso, curiosamente, era comum se encontrar uma montagem com a imagem do Humorista Mussum à imagem e semelhança de fotos de Obama em sua campanha presidencial.

Mussum, negro, assim como Obama. Assim como Daniel Alves.

No último final de semana, em jogo válido pelo Campeonato Espanhol de futebol, quando foi cobrar um escanteio, Daniel Alves quase foi atingido por uma banana atirada por um torcedor adversário. Gesto considerado racista, tal qual imitar macacos. Atitudes que têm sido comuns principalmente em campos europeus. Daniel não se vitimizou. Imediata e naturalmente, pegou a banana, a descascou e a comeu. O que era e é ainda um tema tabu, Daniel transformou em totem.

Talvez os que agridem Daniel Alves e tantos outros jogadores negros não saibam, mas para os brasileiros bananas são tão comuns quanto água. Além disso, o fruto é rico em diversos nutrientes. Como diria o cancioneiro popular, “banana engorda e faz crescer”. Se é assim, que se coma aquilo que o inimigo oferece e que isso sirva de força contra o mal.

Banana pra eles.

Atualização

Tudo não passou de marketing. Ação planejada pela agência de publicidade que cuida da carreira de Neymar. Publicitários criaram a tal hashtag somostodosmacacos e haviam orientado o jogador a comer uma banana caso atirassem o fruto em sua direção. Porém, como ele está contundido, ficará pelo menos 1 mês sem jogar, a incumbência foi transferida para Daniel Alves. Ok, o gesto não perde a força, mas cadê a espontaneidade no esporte? Todos os movimentos agora são friamente calculados?

Enquanto isso, Luciano Huck já vende em seu site camisetas com a frase somostodosmacacos.