Aqui é o mundo do futebol, e isso basta!

Vivemos a bola 24 horas por dia. E acreditem, isso basta.

Novidade nenhuma para quem nos conhece e nos difama diariamente.

Aqui, na terra em que pouco se planta e muito se dá, nossa safra eterna de talento alimenta mentes corrompidas em torno de rádios e televisões. Para os fins de semana, isso basta.

Fazemos fila para ver eles fazendo por dinheiro aquilo que fazemos por prazer. Concordamos que ele não sabe jogar nada, até que surja o próximo drible espetacular. Sabemos que ele ja deveria ser substituído, antes mesmo daquele chute maravilhoso que passou a centímetros da trave.

Aqui é assim. Onde houver qualquer fragmento de civilização, haverá uma trave em pé. E mesmo que uma trave não haja, as sandálias já não servirão para calçar pés descalços. E isso basta para nós.

Somos assim por natureza, vivemos assim por obrigação. Todos somos juízes até que cometamos uma falta. Todos temos absoluta certeza até que provem o contrário. Não precisamos ser corretos. Precisamos ser justos. Senão justos com nós mesmos, mas pelo menos com nosso time. E isso é lei. E isso basta.

Crucificam-nos pelos erros. Vangloriam-nos pelos acertos. Tudo isso em frações de segundos. A distância do céu para o inferno é relativa, mas geralmente tem 11 metros, e começa sempre numa marca de cal.

Somos assim por que escolhemos isso. Tivemos o livre arbítrio de escolher entre ser jogador consagrado, ser torcedor apaixonado ou não ser brasileiro. Escolhemos a bola, e ela retribui tal agrado todos os dias. Nesse mundo em que sobreviver é arte, lidamos com as incertezas de um amanhã desconhecido. Mas sempre confiante que no próximo jogo o time vai melhorar. Mesmo que duvidamos que amanhã estaremos vivos, temos certeza que no domingo estaremos assistindo a mais uma vitória nossa. E afinal isso basta.

E se um dia tudo isso acabar, estaremos satisfeitos com tudo isso que vivemos. Uma vida dedicada à bola não é vida digna, mas é vida suficiente. Alguns ficam ricos. Outros ficam famosos. Poucos ficam felizes. A maioria fica só olhando. E nós ficamos jogando bola. Ajeita as traves, chama o pessoal e divide os times. Isso já basta.

Geovani Nogueira
Enviado por Geovani Nogueira em 24/04/2014
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