Não é bom ver uma criança triste

Há poucos dias morreu num acidente de carro um garoto de 13 anos, amigo de Isabela, da mesma idade. No colégio as professoras suspenderam as aulas e fizeram homenagens ao garoto. Ela é filha do meu amigo-irmão, e foi por isso que ele me ligou preocupado com a tristeza da filha. Compartilhamos da tristeza dela, e meu dia também se acinzentou.

No final da conversa eu e ele concordamos que esta é a primeira dor da Isabela, ela ainda enfrentará muitas outras ao longo da vida. Embora fiquemos tristes com suas dores, elas servem para ‘endurecer o couro’ da menina. Por mais que fiquemos tristes, sabemos que não podemos proteger nossos filhos 24 horas por dia. Todos os pais sabem disso. Cada vez que um filho chora, nós pais choramos com eles. Não existe nada melhor que vê-los felizes. Mas não somos proteção em tempo integral.

Nossos filhos fazem escolhas e isso é responsabilidade deles. Cabe-nos orientar-lhes mas a decisão final é deles, somente deles, concordemos, ou não. Meu amigo-irmão disse que vai ficar mais perto dela nesses primeiros dias, vai ser mais amigo e companheiro, conversar mais com ela. Isabela não escolheu essa dor mas nós escolhemos confortá-la.

Ela ainda enfrentará muitas dores ao longo da vida. Desejo que sejam poucas e brandas e que ela tenha sabedoria para se transformar. Sabedoria, eis é a palavra-chave que deveríamos tê-la sempre por perto nas horas alegres ou tristes. Nas alegres para não deixar a tristeza se aproximar. Nas horas difíceis para trazer a alegria de volta.

O que mais doeu em Isabela foi que pouco dias antes da morte do amigo ela passara pelo local do acidente. Muitas vezes passará por ali, ela sabe disso e já se prepara para enfrentar essa dor repetida.

Os dias estão passando e Isabela está mais tranquila. Por mais que seus dias voltem ao normal, ainda assim ela verá que naquela carteira está faltando ele. Ela nunca esperou que um amigo morresse. Nunca desejei que ela sofresse. Não é bom ver uma criança triste.