PINGO NOS IS (EC)
- Seu Edson, vamos colocar os “pingos nos is”.
- Como assim professora, o meu texto não está suficientemente claro?
- Não é disto que estou falando, é sobre aquele pontinho em cima do “i”.
- Ah! Professora. Isso não posso fazer, prometi que nunca mais colocaria este sinal no “i”, e isso a gente não quebra, não é?
- Promessa idiota quebra sim, por que fez uma coisa dessa, menino?
- É uma longa historia professora, fui alfabetizado pela minha irmã mais velha que me obrigou. Como eu resisti, ela com aquela mãozona pegava na minha, e me forçava a pingar o “i”. Então, prometi que quando não fosse mais seu aluno, nunca mais pingaria.
- Você não sabe que se pinga o “i” para não confundir com o “e”?
- Errado professora, pinga-se o “i” para não confundir com o “u” quando tiver dois “is”. Decisão do século 16. Que “lusitanada”, não acha? Por causa disso, imagina o tempo que se perdeu quando só se escrevia manualmente! O escrivão tinha que terminar a palavra e depois voltar para pingar o “i”. Quanto tempo perdido num livro enorme, quantas vezes este movimento repetitivo! Hoje esta situação foi minimizada com as máquinas que já trazem o “i” pingado.
- Como você sabe de tudo isso, menino?
- Professora, faz mais de 10 anos que não pingo. Preparei-me para o embate.
- Menino, pinga os “is”, se não, vou tirar um décimo para cada “i” não pingado – a professora exaltou-se.
- Professora, aqui deve ter mais de 100 “is” não pingados. A senhora vai me dar zero por causa de uma besteira desta?
- Se você não pingar, vai ganhar zero!
- Professora, não quebro promessa.
- Vou te mandar para a Diretoria – (muito brava)
- Pode mandar professora, vou falar para o diretor que a senhora vai me dar zero, por que não pinguei os “is”.
Ao chegar à diretoria acompanhada pelo aluno, a professora é questionada por seu superior:
- Qual o problema?
- Este menino não quer pingar o “i”, diretor!
- Como assim, seu Edson?
E repete-se de novo o embate, agora com o testemunho do diretor que interveio, conciliador:
- Professora, o menino fez promessa, e é prova de caráter não quebrá-la. Vamos dar uma chance para ele, deixe-o reescrever a redação com letra de forma maiúscula, pois aí não terá que quebrar a promessa?
- Não deixo não, seu diretor! A FUVEST não aceita letras de forma em suas redações.
Impasse!
O menino, diante da possibilidade de reescrever a redação, teve uma ideia.
- Se eu puder fazer um novo texto, resolvo o problema.
- Se os “is” não forem pingados, descontarei um décimo por letra! O diretor é testemunha. – ameaçou a professora.
O menino aceitou resoluto, enquanto a professora se sentia vencedora.
Meia hora depois, o aluno voltou com a redação refeita. A professora, armada com uma caneta de tinta vermelha, estava pronta para cumprir a promessa. Mas, para sua surpresa, ao olhar a redação toda, não achou nenhuma palavra grafada com a letra “i”. Todas foram substituídas por sinônimos sem essa letra.
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Pingos nos Is
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