A solidão do poder. Uma vida cheia de glórias, mas sem sentido.

Hesitei muito se deveria ou não escrever um artigo assim tão, digamos: envolvente, intrigante e real.

Prevaleceu a situação de que eu sim, deveria expor no mundo virtual, na rede mundial de computadores a dor existencial que muitos sentem, mas pouquíssimos expõem ou sequer tocam no assunto.

Assunto, que, diga-se de passagem, é bem íntimo, doloroso, pertinente e vasto.

Tratarei aqui da solidão do poder.

Quantos filósofos, sociólogos, psicólogos e estudiosos da conduta humana já se pronunciaram sobre o conceito de Poder? Milhares. Não restam dúvidas.

Neste artigo, em especial, me focarei no poder efêmero, passageiro, que faz com que as pessoas sintam-se semideuses, todo-poderosos, autossuficientes.

Conquista-se poder através de vários caminhos: determinação, meta, perseverança, disciplina, dedicação, obstinação, foco, gana, garra, esforço e uma boa pitada de sorte.

Muitos conseguem galgar espaços, conquistarem o alvo planejado, mas aí é que começam os seus problemas, seus danos e remendos existenciais.

Em dado momento percebem que estão rodeados de "amigos", de aduladores e de interesseiros. Chovem convites para as mais variadas festas e eventos. Tudo no sentido de que aquela pessoa compareça ou ao menos seu nome conste na lista de convidados da solenidade, pois isto, com bem pontua o emergente Rei dos Camarotes - Agrega Valor.

Observo desde longas datas que a pessoa que conquista poder começa, sem perceber, a ampliar de forma desordenada seu círculo de amizades. Muita gente faz questão de tornar-se seu "amigo". Lembrando que amigo é coisa bem diferente e que o solícito só descobrirá quem é quem quando a coisa ficar preta, haver um decréscimo em seus negócios ou mesmo uma queda substancial de reservas ou grana, popularmente falando.

Há executivos que descobrem a solidão do poder em pleno exercício dele. Neste instante dá um nó em sua cabeça, pois a tendência imediata é ficar inerte diante dos aduladores de plantão, dos velhos amigos e dos falsos e emergentes amigos. Sim, ele não tem como distinguir um do outro. É difícil fazer essa peneira, dar essa sacudida. Haja paciência e controle psíquico, emocional e prudência para poder separar o joio do trigo.

Diante desta incerteza:- Melhor, pensa ele, é me isolar, pois as pessoas só se importam comigo por causa das minhas muitas posses, o poder do meu nome, minha influência e o que eu posso lhes proporcionar.

Nesse instante, acontece o fenômeno que denomino: Solidão desvairada.

O sujeito fica cheio de pompa, inseguro, desconfiado em demasia, envolto numa bolha existencial e desacreditando de tudo e de todos.

Eis o preço do poder!

Só que a coisa não é bem assim e ele deveria filtrar com toda a tática humana que adquiriu nos seus muitos estudos, que ainda existem pessoas boas, desapegadas de bens materiais e que focam-se nas qualidades inerentes aos seres humanos e não ao conteúdo de sua "mala", de sua recheada e atraente conta bancária.

O reflexo disto é, não raro, nos depararmos com pessoas muito bem sucedidas financeiramente, mas um farrapo de gente em se tratando de qualidade de vida e relações verdadeiras, sinceras e alicerçadas no vínculo de lealdade e afetividade e não de interesses.

O poder traz em seu bojo uma sensação de satisfação, de autossuficiência e de que o mundo gira ou deve girar em volta dos seus pés. Muitos se perdem nesse caminho e não há como voltar.

As pessoas que assim procedem, ficam robotizadas, mecânicas, ocas, vazias, melancólicas, parasitárias, psicóticas.

Não é prazeroso você ficar ao lado de alguém que pensa e age desta forma. No entanto, como essas pessoas necessariamente precisam de aplausos, de massagens no seu ego inflado, isto as tornam mais vaidosas, ávidas por mais poder e se algum ousado (assim como eu), chegar, dar uma sacolejada nessa criatura e dizer de forma intrépida, olhando nos olhos do todo-poderoso e embasada, fundamentada em experiências vivenciadas: - Calma lá, mude de rota, meu caro! A vida não é bem assim! Ele pode achar que você está querendo diminui-lo e aí a amizade mingua, evapora, some. Afinal, o autossuficiente não admite ser contrariado, muito menos por uma plebeia que pensa saber ou ter descoberto o elixir da felicidade.

É que, infelizmente, o poder tem o mistério de também cegar as pessoas. O precipício está bem patente aos olhos de qualquer cristão, de qualquer criatura, mas o plano existencial que o poderoso se encontra é tão alto, tão sublime que fatalmente não dará ouvidos aos conselhos dos mais experientes acerca das ciladas da vida. Desprezarão os conselhos e farão sua vontade, afinal, pensam eles: Eu posso tudo!

Consequências e resultado disto? Dores existenciais maiores e mais decepções à curto, médio e longo prazo.

Caso notório que sempre me vem à mente é o ex-megaempresário Eike Batista. Enquanto liderava na revista Forbes como um dos homens mais ricos do mundo, era ovacionado por multidões, aplaudido por milhares e vivia rodeado de "admiradores e amigos".

Nas voltas que o mundo dá, um "tsunami financeiro" abocanhou sem dó nem piedade seu patrimônio e todos os seus amigos sumiram, escafederam-se, evadiram-se. Hoje seu nome é motivo de piadas das mais desumanas possíveis (o que repudio de forma veemente) e a mídia estampa de forma exaustiva seu declínio financeiro em queda livre. Uma lástima.

Pergunto: Onde estão os amigos dele? E as empresas, os empresários e políticos que sempre estavam ali do seu lado, negociando, oferecendo parcerias, etc? Será que alguém chegou junto dele e ofereceu ao menos um ombro amigo para ele desaguar suas dores e tormentos? Será que neste nebuloso momento em que fazem piadas sem nenhum senso de humor, alguém chegou ao lado do ser humano Eike e ofereceu seus préstimos mesmo sem almejar qualquer remuneração, apenas pelo fato de ser seu amigo de longas datas?

Penso que não! A experiência me dá subsídios para assim concluir, entender.

No mundo capitalista e interesseiro que vivemos, infelizmente o homem é enaltecido, valorizado pelos bens que possui e não pelo caráter que detém. Sua conta bancária e suas muitas posses ditam as regras do jogo. Jogo infame, mesquinho e covarde, diga-se de passagem.

Acabaram-se os valores. Minguaram-se a essência das pessoas.

Hoje, por mais debatido que seja o tema, o "ter" prevalece sobre o "ser" e isto é fato consumado. Dói, literalmente, dói a alma, parte o coração de pessoas sensíveis, desprovidas de interesses e que amam a conduta e lisura dos sujeitos e não as suas muitas aquisições efêmeras e passageiras, pois como sempre afirmo: caixão não tem gavetas.

Nada trouxemos para este mundo e manifesto é que nada levaremos dele, assim preceitua a Bíblia Sagrada, portanto, sejamos leais conosco mesmos e nos desapeguemos de coisas que certamente nos trarão conforto momentâneo, mas não preencherão o vazio da nossa alma.

Reflita acerca disto e seja mais feliz!

Fátima Burégio
Enviado por Fátima Burégio em 19/03/2014
Código do texto: T4735839
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