Infância
Infância
Infância tem gosto de terra, toá, barro, argila, gosto de tudo que é doce e mais um pouquinho de açúcar. Infância lembra belém-belém que nunca mais eu tô de bem e corta aqui no mindinho, vou jurar bem juradinho quem sabe o ano que vem? Infância é brigar por não ter dito que o castelo de areia do amigo na verdade era um reino encantado onde viviam gigantes e trols e princesas presas nas torres das histórias infantis que um dia ouviram os pais contar. Infância é correr pro cobertor e embrulhar pé e cabeça pro bicho papão não pegar.
Infância também é correr pro chinelo e desvirar antes que a mamãe possa morrer. É dizer que quem tá com a mão amarela é o dono do mau cheiro que fez todo mundo correr. Infância é brincar de empinar pipa, sem passar cerol na fita pra polícia não pegar. É rodar ioiô na roda, fazendo aquelas manobras pra quem sabe impressionar. Infância é convencer todo mundo que você é o dono da brincadeira e gritar pro mundo ouvir, bem alto “folhinha de abacate ninguém me combate” pra ninguém cair na besteira.
Infância é correr descalço na rua pra não ficar para trás na hora de bater um, dois, três. É dizer que tá cansado de ficar ali contando e ameaçar "não brinco mais". Ainda com o pé no chão brincando de futebol ou de cola-americana arranca o dedão do pé e grita que tá de chaves, mas fulano é carta branca, ignoram a criança que joga folhinha verde pra trás. E ainda ali correndo como quem só tem um dia, apronta, faz travessura e depois ainda sai de cara dura quando de longe a mãe grita “tá na hora de fazer tarefa”.
Infância é esquecer-se de tudo e imaginar outro mundo que não seja o mundo real. É querer ser power ranger, travar uma lutinha besta e mudar pra outro planeta numa nave espacial.
Infância, deu saudade, deu vontade de voltar. Pena que hoje já não dá tempo nem de reverter o tempo pra viver naquele tempo onde folha de papel era barco, era avião.