O Varredor de Ruas e Eu
Esquisitona que sou, amante das condutas e comportamentos humanos, apreciadora das mais diversas profissões, tirei esta semana para, no período matinal, no trajeto que faço diariamente a pé, parar um pouco e bater um papo com um varredor de ruas.
Primeiro parei. Observei seus gestos. Fiquei atenta avaliando se ele varria a rua de cara amarrada ou de bom humor. Observei suas mãos calejadas, percebi sua fisionomia que mostrava-se tranquila mesmo sob um sol forte às 08:00 horas da manhã. Era perceptível e visível o suor descendo testa abaixo.
Respirei fundo e disse comigo mesma: Pronto, dona Fátima, agora é o momento de saber mais acerca desta honrável profissão!
- Bom dia, cidadão!
- Bom dia, senhora!
- E aí, muito lixo pelas ruas do Recife?
- Sim madame, tem muito lixo.
- Que povo mau educado, não é, moço?
- Sim, senhora! Jogam tudo no chão.
- E como será no Carnaval?
- Ah, madame, será bem pior. Se nos dias normais o povo já joga lixo nas vias, imagine no carnaval.
- E o senhor irá trabalhar naqueles dias?
- Estou escalado, senhora. Também, eu nem ligo. Não brinco mesmo!
Já ganhando espaço e detendo certa confiança dele, comecei a questionar acerca das coisas que eu realmente estava interessada:
- O senhor transpira muito no seu labor diário, não, cidadão?
- Nem me diga, madame. É muito calor.
- O senhor gosta da sua profissão, mestre?
- Eu gosto, senhora. É bom limpar a cidade.
- O senhor se considera uma pessoa feliz?
- Eu sou sim.
- O senhor faz o que no final do expediente?
- Ah, eu vou pra casa, tomo um banho, descanso um pouco e vou jogar dominó com uns vizinhos. Sou bom de jogo.
- Muito bem. O senhor sente falta de alguma coisa em sua vida, cidadão?
- Eu mesmo não. Sou muito é feliz, minha senhora!
- Que bacana, moço! Continue assim! Tenha um bom dia! Finalizei.
Sintetizando:
Por vezes, reclamamos de barriga cheia.
Por vezes, muitos esquecem de cumprimentar estes profissionais.
Por vezes, alguns os rotulam como escória da sociedade.
Por vezes, é interessante gastar tempo com pessoas preciosas como estes brilhantes profissionais, para entendermos que eles, em muitas circunstâncias, são muito mais ricos e abastados que nós.
Isto é o que eu chamo simplesmente de: SABER VIVER!