Quem sãoos nossos filhos?
 
“Educai as crianças e não
precisarás punir os adultos”. (Pitágoras)
 
 
          Desde menina escuto as pessoas dizendo que a morte dos pais desestrutura a vida de uma família. Cresci vendo esta teoria se confirmando na vida de pessoas muito próximas. Com o tempo fui percebendo que não era apenas a morte física que deixava sequelas nas famílias. Fui, ao longo da vida, conhecendo muitas crianças “órfãs de pais vivos”, o que, no meu entendimento é ainda mais grave.

          São crianças e adolescentes que, infelizmente, têm pais vivos, de corpo presente, mas ausentes na vida deles, distantes de seus corações. Filhos que foram jogados no mundo, mas não orientados; criados, mas não educados.

          Filhos que sabem lidar com tecnologia de ponta, mas nunca foram apresentados a vida em família; que viajam milhas e milhas conhecendo novas cidades, mas desconhecem como viver em família/comunidade. Filhos que passam o dia conectado ao mundo, mas desconhecem aquilo que é de vital importância na formação de uma criança: a presença de pais que os amem, cuidem, deem bons exemplos, imponham limites, acompanhem seu crescimento, espantem seus medos, contem histórias em noites de chuva.

          Os pais não têm mais tempo para sentar no chão e brincar com seus filhos. Não tem paciência para jogar pipa, preferem entrega-los as babás eletrônicas, coloca-los em frente à televisão e/ou ao computador como forma de ficarem em paz, relegando aos outros a educação que eles deveriam dar. Com isso, formamos um verdadeiro batalhão de filhos órfãos de pais vivos. Jovens que crescem sem um referencial familiar. Meninos e meninas que “aprendem” na rua o que deveriam aprender em casa, com seus pais. Esta crise familiar está refletida em todas as nossas relações e instituições.

          Estes filhos de pais ausentes crescem e, quase sempre, se tornam profissionais sem habilidade para lidar com os sentimentos. Homens e mulheres que não sabem encantar ou deixar-se encantar pelo outro. Que recuam diante da beleza. São excelentes técnicos, mas desconhecem a mais fascinante e encantadora máquina – o homem.

          Estamos diante de uma geração que se distancia de si mesma. Que se perde nos labirintos que ela mesma criou.
 
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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Família
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Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 24/02/2014
Reeditado em 18/10/2014
Código do texto: T4704882
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