Olhos treinados

Costumo dizer que roubo recortes do tempo, dou uma chacoalhada para aparar as arestas e colocar em evidência detalhes que muitas vezes nos passam despercebido. Porém, em uma tarde dessas, em que o tempo parece passar devagar, encontrei uma cena que chamou minha atenção. O próprio tempo, senhor do destino, estava ali como se estivesse imortalizado e me fez parar por alguns minutos. Devo acrescentar que o local era uma avenida movimentada com grandes lojas. Em meio a tantas construções imponentes, uma casa que parecia abandonada. Na frente, um jardim tomado por plantas rasteiras exibia uma cena digna de encher os olhos de qualquer fotógrafo, e é claro que eu não poderia deixar de registrar. Peguei minha câmera e comecei os cliques. Uma grade enferrujada cercava todo o jardim. Do lado de dentro, uma mesa empoeirada com uma máquina de escrever totalmente enferrujada, ao lado uma xícara azul que abrigava uma suculenta, e no chão uma banheira antiga forrada de plantas rasteiras dava o retoque final àquela cena inusitada. Muitas pessoas passavam olhavam, mas não viam. O belo exige olhos treinados. Os objetos de meu deleite estavam cobertos de folhas e corroídos pelo tempo, ali presos àquele momento de uma forma tão serena... Era quase possível visualizar dedos ágeis matraqueando aquelas teclas, a xícara ainda esperava que seu líquido fosse sorvido, e a banheira, em vez de musgos, abrigava um corpo perfumado, imerso em muita espuma. Que belos recortes eu pude roubar naquela tarde...

Vale a pena conferir as fotos que são verdadeiros pedaços de poesia...

leilabomfim.blogspot.com

Leila Bomfim
Enviado por Leila Bomfim em 09/02/2014
Reeditado em 27/03/2014
Código do texto: T4683839
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