Comércio não é lugar de passear

Existem muitas discussões e teorias sobre o fenômeno ‘rolezinho’. Eu também quero dar meu palpite. Por enquanto sabemos que é um encontro de jovens adolescentes, aparentemente pacíficos, num centro comercial. Os mais experientes lembrarão que na nossa adolescência ‘dar um rolé’ era passear sem compromisso, origem do ‘rolezinho’. Havia um ditado que eu gostava muito: ‘Meu sangue não circula, dar um rolé.

Pelos noticiários, vi que o ‘rolezinho’ é de jovens em férias escolares, classe média ou ascendente, usam roupas melhorzinhas, assíduos nas redes sociais na internet e muito tempo disponível. Estão de férias entediados em casa.

Entendo que aqueles jovens foram aos centros comerciais não para badernas ou quebra-quebra. Marcaram uma reunião, ou ‘rolezinho’, para encontrar amigos reais e virtuais. Só que foram muitos, além da lotação esperada pelos lojistas.

É fácil o discurso de que eles deveriam estar trabalhando ou lendo numa biblioteca. Difícil é admitir que a sociedade deu a eles muito tempo para a ociosidade. Não deu-lhes a obrigação de arranjar emprego nem de fazer um trabalho social voluntário. O último ato foi a aprovação do Estatuto da Juventude com a idade de até 29 anos ser considerado jovem, tal qual um adolescente. Nos discursos no dia da votação pareceu-me que os parlamentares tinham medo de perder os 53 milhões de votos desses jovens. Só uns dois abordaram a capacidade laborativa e produtiva desses homens e mulheres.

Os centros comerciais tem algumas estratégias para atrair o consumidor. Lojas coloridas e bem iluminadas, reformas periódicas das praças, seguranças bem vestidos, clima ameno, música ambiente. E o mais impressionante, poucos bancos para descanso e chão bem liso para a pessoa caminhar devagar.

Imaginemos todos os jovens dos ‘rolezinhos’ nos mesmos centros comerciais com dinheiro no bolso para comprar. Será que o comércio fecharia as portas para eles? O comércio é para consumir. Creio que dizem os lojistas:

- Se quer passear vá aos clubes e parques. Reúnam-se nas calçadas. Comércio é lugar de comerciar, não é lugar de passear.