Misteriosa candura

O vento que balança, lança a semente ao chão. A semente que brota, a semente que lota espalhando a vegetação. Oculta-se na fissura do terreno à procura da água e do calor, grande é o mistério do criador.

Vem a chuva a correr sobre a terra, desce ao pé da serra, some barranca abaixo, ganhando reputação, deixando de ser pobre riacho para formar um garboso ribeirão. Lá está ela inchada de emoção, é forte o momento, na alegria, aparece o pequeno rebento com nome assemelhado a um imperador romano: "Caulículo". A família começa a crescer, assim como do nada surge o “Folículo”. Multiplica-se a descendência num processo contínuo de sobrevivência. A mãe natureza tem muitos filhos, de múltiplas formas, tamanhos, cores e finalidades, mas admirável é o arranjo feito com tamanha simplicidade.

Uma gigantesca organização emoldurada pela límpida e transparente atmosfera, feito nuvens de algodão, debaixo deste imenso céu azul sincero. Ora, o mundo é como uma grande galeria, encerrando magníficas obras de arte de um único autor, destacadas na geografia. A qualidade é patenteada aos indivíduos pelo crisol, sob a tutela acalorada do majestoso astro-rei sol, que dá ao azul celeste o tom dourado ao parir um novo dia, mas ao surgir a misteriosa noite que a tudo descansa, o faz descansar também no crepúsculo como um ermo, de intenso violeta manchado; como se a escuridão, algoz, conduzisse a criação ao termo. Pobre dos gatos, que nunca mais puderam gozar da privacidade, pois a noite agora chamada criança, permite ao homem brincar nos seus brinquedos com toda liberdade, despedindo a apropriada tardança... Aquela pequena criatura agora é um ser maduro, transformou-se numa árvore frondosa, e nos seus rijos galhos, hospedeira dos alados, como genuína mãe ciosa. O sopro divino sobre a irmandade Eucaliptos nos faz relembrar a esplendorosa Broadway e seus mágicos espetáculos musicais. Revoadas com a mudança de estação, os cantos misteriosos, sons encantadores em grande aclamação! A rosa ao romper do apertado botão floral; o bebê ao romper o útero materno; o canto da cigarra são situações que nos fazem subalternos. Submissos à índole maternal desta mãe prodigiosa, como meros expectadores do sincronismo universal. As estações, os movimentos, a matemática das ondas, os relógios temporais. Tudo estava aí, ao sábio cientista à honra da descoberta, mas a festa se realiza na coreografia dos carnavais! A reprodução da pele idêntica; o coração que bate sem parar; a canção mais bela; a mão que ninguém reproduz, a digital personalizada, assim é a criação, inebriante e sedutora. A interdependência serial, o paralelismo infinito. Os enigmas da floresta densa e diversa em meio à convivência natural e seletiva entre os espécimes da fauna e da flora nesta mega-diversidade. Harpias, bromélias e uacaris; arara jubas, briófitas, jequitibás, muriquis, besouros, gafanhotos, sucuris, etc. Cada um desses seres se agrupa em sociedades apresentando alcateias, bandos, cardumes, enxames, fatos, manadas, nuvens, varas e revoadas, num processo de seleção natural descrito por Darwin e seus fenótipos. As profundezas do mar com vinte e oito mil espécimes catalogados de peixes, abismos profundos, mistérios ocultos inimagináveis! Subindo ao espaço encontramos galáxias, planetas, luas, asteroides e cometas. A ciência afirma que tudo isso pode ter surgido a partir do nada, ou seja, um desarranjo conhecido como “caos”, posterior à grande explosão chamada de “Big bang”! Talvez seja muito simplório para a ciência aceitar: “No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas” (Gn I).

“O escritor sagrado talvez não conhecesse tal fenômeno”, ou quem sabe ainda escrevesse como um profeta ou sacerdote, contemplando os grandes sinais dos tempos. No entanto é necessário muito amor para criar e expandir essa extraordinária complexidade universal. Gigantescas estruturas e minúsculos ecossistemas, tudo com organização extremada; ainda chamar pelo nome, atribuir uma identidade exclusiva, estabelecer relação e interdependência. A vida é o maior espetáculo do Criador, obra minuciosa, embora tantos queiram inventar outras autorias ou simplesmente diminuir a grandiosidade do projeto divino ou, ainda pior, destruí-la ou impedi-la. O salmista contempla:

“Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome! Pois expuseste nos céus a tua majestade.

Da boca de pequeninos e crianças de peito suscitaste força, por causa dos teus adversários, para fazeres emudecer o inimigo e o vingador.

Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste,

que é o homem, que dele te lembres? E o filho do homem, que o visites?

Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que Deus, e de glória e de honra o coroaste.

Deste-lhe domínio sobre as obras da tua mão e sob seus pés tudo lhe puseste: ovelhas e bois, todos, e também os animais do campo;

as aves do céu, e os peixes do mar, e tudo o que percorre as sendas dos mares. Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome!” (Salmo 8).

Enquanto os homens andam, correm, navegam e voam; enquanto os homens sobem e descem escadas e elevadores; enquanto os homens se aglomeram em filas e congestionamentos; enquanto os homens congelam-se na frieza dos negócios em luxuosos escritórios; enquanto os homens buscam os prazeres mordazes, desviam seus olhos do beija-flor nas flores do parque, ou da beleza da alvorada que surge atrás do condomínio, ou da alegria das crianças nas estripulias do playground, da beleza das flores no jardim da praça, e lamentável o fato de não voltarem seus olhares e preces ao céu, mansão do Senhor, porque apesar dos sentidos que lhe foram agraciados não contemplam a bondade do Criador. É fascinante esta misteriosa candura! Deus, com sua economia perfeita estabeleceu de maneiras sensível, sábia, generosa, impecável e enamoradamente romântica todas as coisas. Somente quem verdadeiramente ama conhece a Deus e é sensível à sua criação. O que menos importa é o como e o quando, pois é mistério, importam a autoria e o resultado.

Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom (Gênesis 1,31).

James Assaf
Enviado por James Assaf em 19/01/2014
Reeditado em 19/01/2014
Código do texto: T4656320
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