Presente de Amigo Secreto

Novamente chegaram as festas... e a correria das compras, das filas intermináveis, das dívidas que precisam ser saldadas com o dinheiro do décimo terceiro salário, e mais outras que deverão ser feitas com o mesmo dinheiro, que estresse!
E as festas... que festas! Presentes, comes, bebes, amigo secreto – ou seria amigo oculto? – Parece que nem um nem outro amigo invisível! Sim, esse é o nome dessa outra festa de final de ano. Não é uma novidade, todos conhecem, assim como não é novidade esse sentimento natalino, que todos parecem sentir e que alguns nem notam...
Vamos lá! Você tem que participar, conhecer pessoas novas...” A frase insistente do convite para o amigo invisível (amigo secreto) rodopia dentro de cantos empoeirados dos cérebros inquietos.
Por causa de “amigo invisível” alguns já receberam belas broncas e até umas bordoadas dos pais, cuja voz cuidadora ou severa, ou ambas, diziam em sua forma de enxergar as coisas: “Pare de falar sozinho, menino”. E lá se ia a privacidade das brincadeiras e fantasias de heróis imaginários...
Mas na hora de comprar, esses pensamentos precisam ser enxotados, ainda mais quando se depara com algo bem arrumado que está dentro do preço estipulado pelo amigo (que não é invisível) de onde partiu o convite para a festa.
E decididamente abraçados ao futuro presente como a um troféu, pois perder tempo escolhendo algo para quem nem se tem certeza quem seja, é enfadonho. Talvez seja um dos conhecidos pouco percebidos, não um amigo real, que nem curte suas atividades nas redes sociais, não sabe o que se passa na sua vida, enfim, o termo “amigo” é tão inaplicável que o simples fato de perder tempo escolhendo, incomoda.
Mas “amigo secreto” desperta outra realidade... outra motivação. Poderia ser alguém que se importa... que observa com interesse amistoso pelas redes sociais ou nas reuniões e encontros... E a nova motivação para comprar o presente já dá ânimo para acrescentar uma caixa de bombons, e correr para a fila amedrontadora.
Sim, muitos detestam as filas... aliás, alguém gosta dessa instituição da perda de tempo? Um monte de desconhecidos ansiosos pelo fim da fila, cheios de energia negativa por causa da infindável espera, e mais aqueles olhares impiedosos para os atendentes nos caixas, que nunca trabalham rápido o suficiente... Será que eles sentem o mesmo quando estão pagando suas contas ou comprando presentes para seus amigos secretos?
Pior são os olhares dos que estão atrás... Cada qual mais cheio de vontade de que o outro desista, torcendo para alguém da frente ter esquecido algo e precisar abandonar a formação em novos voos pelas gôndolas em busca de outro tesouro fútil. Quanta energia negativa!
Bem, os presentes pagos dão a garantia de sucesso para o amigo secreto, ou oculto, que estaria na festa esperando para dar seu presente para seu próprio amigo secreto.
E o tempo passou rápido. Quase chegando em casa, lá estão os moradores de rua preparando sua cama com seus papelões sob uma marquise... como fazem todos os dias... E de repente surge à pergunta: “quem seriam os amigos ocultos deles?
Não dá pra dormir tranquilo pensando no amigo oculto que receberá um presente para cumprir um rito social, quando aqueles outros seres humanos passam dias sem que ninguém os valorize.
Não vai resolver os problemas deles, é claro, mas amanhã eles acordarão com dois presentes, e se tiverem recebido a oportunidade de aprender a ler, saberão quem os deixou para eles ao lerem o que foi escrito num papel.

“Feliz Natal! Com carinho de seu amigo secreto”.