O uso correto do chapéu


    
A história do chapéu é antiga e fascinante. 
     Sabe-se, que os povos primitivos já o usavam para protegerem suas cabeças do sol, do frio e da chuva. 
      Ele surgiu, pois, para defender o homem das intempéries climáticas, informa o Google. Por isso, nas pesquisas, não há notícias do seu uso em recintos fechados. 
     Até hoje é assim: os poucos que ainda usam chapéu, tiram-no da cabeça, toda vez que entram em igrejas, cinemas, teatros, restaurantes, em suas casas, e nas casas dos amigos. Uma questão de educação.
     Admiro o chapéu, desde criança. 
     Comecei pelo chapéu surrado do meu velho vigário. Meu santo pároco cobria sua cabecinha branca para se livrar do escaldante sol do sertão do Ceará. 
     Me lembro, também, do chapéu do juiz de Direito de minha comarca, um gelô descente, feito sob medida para a cabeça de um jurista sisudo e humano, como era o doutor Fulano. 
     Não sou do tempo de Lampião. Mas ficava impressionado com uns camaradas que passavam pelo armazém do meu pai, para tomar uma, portando o inconfundível chapéu do capitão Virgulino. 
     Com 12 anos de idade, sertanejo feliz, ganhei de presente um belo chapéu de vaqueiro. Só tirava-o da cabeça em casa; no Grupo Escolar; e na igreja de Senhora Santana, a doce padroeira da minha cidade. 
     Quando deixei o sertão, perdi o chapéu que ganhara de um vaqueiro destemido e respeitado pelos zebus e vacas paridas da sua região.
     Cheguei na cidade grande, no tempo de Getúlio, o "amado" ditador. O GG, baixinho, mas muito elegante, costuma acenar para os "trabalhadores do Brasil", com seu chapéu de massa cinza. 
     Depois de Vargas, apareceu Juscelino. Com seu chapéu à mão, JK, elegantíssimo, saudava,  sempre sorrindo, o seu felicíssimo Brasil.
     Aos pouco o chapéu foi desaparecendo, inclusive das cabeças das madames. Tive uma tia, em Fortaleza, que fabricava e  alugava lindos chapéus femininos. Com a crise, a tia foi à falência...
     Durante meses, seus chapéus, finíssimos, ficaram às moscas, na enorme sala de visita de sua casa, na Rua Senador Pompeu. 
     Eu tinha tanta pena da tia, que, muitas vezes, sonhei em comprar o que restara da sua chapelaria. Ela já morreu, mas sua casa ainda está de pé; apesar da degradação que atinge aquela tradicional rua da capital cearense. 
     Teve, pois, o chapéu, seu tempo  e sua vez.  
     Um pouco esquecido, ainda assim, saber usá-lo é uma questão de inteligência, elegância e educação. Pela sua história, nunca permitir que ele se torne um objeto de chacota e achincalhe. 
     Agora mesmo, a imprensa nacional  diverte-se pra valer com o chapéu de vaqueiro de um suplente de deputado baiano, no exercício do mandato. 
     O folclórico político, que também e forrozeiro e sanfoneiro, insiste em comparecer às sessões da Câmara Federal, com o tal chapéu na cabeça. Teve sua proposta vetada; e em boa hora.
     O veto está sendo aplaudido por Otávio Mangabeira, Aliiomar Baleeiro, Tarcilo Vieira de Melo, Luis Viana Filho, Oliveira Brito, Fernando Santana ( e por que não Antônio Carlos Magalhães?)  políticos que encheram de glória a história parlamentar da Bahia. 
     Nada contra o chapéu do estranho suplente. Mas ele agiria melhor se guardasse seu "sinete" para as horas vagas; para exibi-lo, por exemplo, no convívio do seu eleitorado que, certamente, adora vê-lo vestido de sanfoneiro ou vaqueiro!
     Por acaso, assisti sua entrevista numa televisão baiana. Cheguei à conclusão de que ele poderá ajudar muito a Bahia, sem desfilar, no plenário do Congresso, com seu chapéu de vaqueiro.
     Não confundir, Ó,  nobilíssimo suplente, a Câmara dos Deputados,  com os belos e leiteiros campos da sua simpática e rica Itapetinga... 

 

  
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 18/04/2007
Reeditado em 15/10/2020
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