Amarelado Girassol

Um dia conheci um girassol. Suas doces palavras deveras me encantaram. Sua história, sua luta, suas buscas e seu amor foram elementos chaves para tornar-me admirador da eloquente plantinha. Contudo, não me faltaram alertas para me fazer desenxergar pelos olhos da xantopsia. Disseram-me haver espinhos no girassol. Sinceramente, não quis acreditar. Mesmo sendo evidente que o referido vegetal, diferentemente de outrora, desdenhava simplórios jardins, inclusive o qual habitava. De tanto olhar o sol, quiçá, sua visão enturvou. O brilho de metal precioso que transborda o astro rei fez da planta escrava do mal que consome a humanidade. E a capacidade de perdoar 70 x 7 não fez frente às 30 moedas de prata que agora as possui. A bela flor, a girassol em cor fulgente, amarelou na pior acepção da palavra. Acredito que a semente que germinou a oleaginosa, provavelmente, não foi regada com o poderoso líquido do amor e do perdão. Seu jardim, agora de concreto, corrobora o apego à abstração do valor material. Porém, como dizia um antigo camarada: "a solidez se liquefaz no ar". Por isso, acredito que o admirado girassol amarelo ainda possa proporcionar grandes sombras de afeto. Mário Fiúza