Olho no lance

Podia ser no chão, numa mesa, no meio da cozinha ou da sala, não importava. O negócio era o gol, a adrenalina e concentração de controlar aqueles discos plásticos como se fossem jogadores reais. Van Basten, Roberto Baggio, Marcelinho Carioca, Raí, Llineker, Bierhoff, Zubizarreta, Hugo Sanchez e tantos outros, foram muitos os que passaram e brilharam pela minha palheta.

Minha relação com o futebol começou em 1990. A primeira lembrança real disso tudo foi a eliminação do Brasil na Copa de Itália, eu nunca esqueci o lance de Maradona e Caniggia, e o silêncio que ficou no meu bairro. Devo lembrar que não vi o jogo, apenas o replay do gol.

No ano de 1994, eu não era um aficionado em ver futebol, jogava sempre o de mesa e torcia pelo “Romário F.C”, sim! Onde o baixinho estivesse, era lá que a minha torcida estaria. Vale lembrar que nesse ano eu já era meio balançado pelo Corinthians, paixão que ficou definitivamente consolidada nas finais do Brasileiro, contra o eterno rival Palmeiras. Dirceu Maravilha narrou o gol de Marques e eu virei corintiano definitivamente naquele dia, 18 de dezembro de 1994.

Mas o negócio aqui é o futebol de mesa, paixão que vivi por mais de dez anos. No inicio, jogávamos eu, meu irmão e meu primo, mas logo meu irmão deixou pra lá. Aos que sobraram, as glórias. Não havia tempo ruim, empecilho, nada. Varávamos semanas, dias, meses sobre uma mesa no disputadíssimo Mundial Sub-20.

Foram 21 edições disputadas, até 2005. Em 2006 já haviam mais dois mundiais marcados, um no Marrocos e outro na Espanha, que seriam, claro, na boa e velha mesa de corte de minha mãe. Mas a vida da tanta volta, e numa dessas voltas meu primo resolveu não regressar.

Resolvi, depois disso, nunca mais tocar num botão. Eu mantinha meu próprio campeonato, chamado Copa do Sol, mas este também se calou. Apesar da decisão, vez ou outra eu arrisco uns chutes, mas, ao marcar um gol, a sensação é de que , mesmo sendo um golaço, ninguém no estádio comemora. A bola fica parada nas redes, e lá permanece.

O ultimo jogo entre eu e meu primo foi um acirrado Servia x Romênia, com empate em 2x2, e 3 x 1 nos pênaltis. Recolhi minha Romênia, enquanto ele comemorou o inédito título da Sérvia.

Devido à correria de trabalho em 2006, o Mundial passou em branco. No ano seguinte, durante as férias, disputaríamos os campeonatos em aberto. No fim de fevereiro, meu primo faleceu. Sempre que é disputada a Copa São Paulo de Futebol Junior eu lembro disso. O futebol perdeu um grande craque, ou dois?

Saudade...

*14/01/2011