Um grave acidente no trânsito

Recentemente eu me encontrava no trânsito da minha cidade, como faço costumeiramente, todos nós hodiernamente estamos a depender dos meios de transportes, ora como passageiros, motoristas ou pedestres, nada invulgar. Mas, poucos dias atrás, instantaneamente parei meu veículo numa interseção ante a um semáforo aguardando a mudança para seguir. Naquele instante, eis que na via transversal, uma avenida movimentada que circunda a capital cearense, ali em velocidade moderada trafegava um caminhão-reboque e sobre ele um automóvel, provavelmente novo e com configurações de um carro top de linha, então muito bonito. A cor, um amarelo da moda. Por aquela artéria o trânsito fluía lentamente e isto foi suficiente para que a minha visão fotografasse em diversos ângulos aquele carro rebocado, então um modelinho muito veloz porém ali se fazia transportar-se. Logo o sinal mudou e ao partir ainda, observei toda a dianteira daquele carro rebocado, pois esta parte estava voltada toda para trás. Continuei seguindo em frente, mas fiquei com toda aquela cena gravada na minha memória. Mesmo com o pouco que vi, fiquei chocado. Preferiria não ter visto tudo aquilo. Aquele carro de luxo havia se envolvido num grave acidente, um infortúnio, pelas suas avarias, foi ele o próprio causador, pelo seu imprudente motorista e proprietário. Era o retrato da desolação, mas nada que fugisse à regra de um trânsito caótico, agressivo, violento como em todas as grandes urbes brasileiras.

Congelei as imagens na minha mente e passei a refletir apenas as que ainda se encontravam recente no meu HD da memória, exatamente, aquelas nas quais se vê o carro acidentado sobre o reboque. Fique chocado e impressionado com o que vi em pouco tempo, mas foi suficiente para me deixar perplexo, de um cenário de tantas avarias para um pequeno corpo metálico, até então móvel pelas suas próprias forças, doravante, sem autonomia, mas que já foi um auto. Agora que eu já me encontrava estacionado em lugar seguro passei a analisar cada fotografia armazenada na caixa do meu cérebro, explorando uma por uma. Tinha uma panorâmica que foi a primeira, depois uma quase invisível da parte traseira, outra um pouco ofuscada que me permitia fazer uma breve leitura do teto estufado para o alto, pontiagudo, várias eram da lateral esquerda entre as quais uma muito se destacava na minha memória, pois refletia bem o ângulo em que se encontrava abruptamente aberta a porta, com certeza, foi forçosamente aberta para a saída de sobrevivente, talvez, o condutor; por fim, avaliei detidamente algumas fotos da frente, e, muito concentrado consegui visualiza-las de forma tridimensional, isto é, em 3D, graças à facilidade que tenho em enxergar certos visuais em três planos, até porque todo fato que se vê, todo ele tem causa e consequências, logo, nada é apenas o visual, sempre tem muitas implicações por trás de tudo. Por exemplo, uma guerra não é só cada batalha, algo já se produziu como causa para a declaração do estado de guerra e são aguardadas inúmeras consequências, entre as quais, a redução do contingente populacional da nação que se encontra em guerra, pelas suas diversas baixas, por vezes, para atender à lei de Mauthus.

Modernamente, os números nos permite concluir que estamos vivendo inúmeras batalhas numa guerra não declarada com o pseudônimo de “ Guerra da violência do trânsito”. Quando digo “modernamente” parece-nos um grande antagonismo, pois a violência qualquer que seja ela, não reflete as tecnologias dos tempos modernos a serviço de uma vida de melhor qualidade ou será que o trânsito está indo num caminho na contramão dos avanços cientificamente falando.

O que se podia observar sobre aquele caminhão reboque não era um automóvel de luxo, mas uma desmanche, um descarte, um lixo, nada mais do que um amontoado de ferros praticamente retorcidos, já sem forma definida, um vulto assombroso, intimidatório, sem expressão, sem vida, um mau exemplo, o resultado da inconsequência. Externamente, nada inteiro, integralmente não será possível devolve-lo ao tráfego, pois tudo se mostra comprometido. Foi um acidente de grande proporção, talvez de terceiro grau, o qual deixara sequelas mecânicas em toda a estrutura do auto. São avarias generalizadas em todo o corpo, tudo irremediável. Aí eu sozinho fiquei a indagar-me: quanto tempo uma pessoa levaria para causar todo aquele estrago naquele veículo, mesmo com uma boa picareta de grande porte, talvez muitas horas ou vários dias seriam necessários para deteriorar todo aquele auto, como assim se mostrava como resultado de um único acidente.

Pois é, um estrago que alguém levaria um grande tempo para causar um grande dano na estrutura de um automóvel. Saibam, toda aquela destruição começou e terminou no máximo de um tempo de três segundinhos, é isto mesmo, três segundos que correspondem ao tempo médio para se consumar os mais diversos acidentes de trânsito. Se você quer saber o que é um tempo de três segundos, basta pronunciar a seguinte expressão dinamicamente: “cento-e-um, cento-e-dois, cento-e-três”, pronto, neste período se dá a maioria dos acidentes automotivos, isto é, se consuma toda a dinâmica do conflito e nada mais se movimento, a não ser as pessoas em busca de socorro.

Avaliando aquelas tristes avarias, pode-se concluir que não houve capotamento, mas, uma possível “colisão frontal”, isto porque o teto mostra-se estufado para o alto, e, sua frente, simplesmente interiorizou-se contra os ocupantes dos bancos dianteiros, forçando a abertura das portas, portanto, correspondendo ao que popularmente se diz “virou um maracujá”.

Agora vem a maior indagação: ----- Se aquele auto que tinha o design da beleza e da funcionalidade, todo construído com toda a tecnologia de ponta, com a garantia da marca de uma indústria automotiva de renome internacional, e, se todo aquele bem móvel, se antes do festejado e badalado lançamento do modelo foi submetido a uma rigorosa bateria de testes quanto à sua estabilidade, sua aerodinâmica, aderência, espaço de frenagem, aceleração e desaceleração, por fim, toda sua performance foi submetida a toda sorte de resistência e desempenho, tecnicamente, será que seu motorista também reunia condições para conduzi-lo nas vias públicas? Realmente, qualquer auto é o resultado de uma longa conquista da perfeição. Apesar de todas essas evidências de funcionalidade mecânica, esqueceram que o trânsito é composto de veículo, vias e homens, e que o componente humano é sempre o mais vulnerável dos usuários, sendo capaz de todos os méritos e de todos os dissabores.

Vendo aquele veículo totalmente amassado e como se trata de carro de luxo, fico imaginando como eram os seus mais modernos acessórios de fábrica, como computador de bordo, banco de couro, ar condicionado eletrônico, som de última geração, talvez uma mini-geladeira, dvd, tv para a visão traseira, e tantos outros equipamentos que uma grande marca pode oferecer a quem pode comprar. Ao mesmo tempo fico indagando, que na presença de danos generalizados em todo o veículo, como ficaram os seus ocupantes, a começar pelo seu condutor, este, certamente um jovem em plena ascensão social, talvez filho de um cidadão bem sucedido, dependente financeiramente, apesar de seu filho ser habilitado, mostrou-se incapaz de conduzir-se ao volante. Um mau exemplo.