INCONVENIÊNCIAS - EC
 
Geny sempre soube que Ruy perdera a mãe muito pequeno e que fora criado pelas quatro irmãs bem mais velhas.

— Tenho quatro mães, costumava dizer, e Geny não se deu conta de que se ele tinha quatro mães, ela teria quatro sogras, elas moravam em outra cidade e Geny mal as conhecia.

Quando Rui fez questão de alugar uma casa grande com camas e colchões sobressalentes, Geny achou estranho, mas não deu maior importância.

Poucos dias depois da sua chegada da lua de mel, uma das irmãs telefonou dizendo que iam ver como estavam os pombinhos.

E vieram. As irmãs Dora, Diva, Dulce e Dirce com os respectivos maridos e um gato.

Pink, o cachorro de Geny, latiu assim que viu a invasão, o gato arrepiou-se todo e a Dirce gritou:

— Rui, prenda esse cachorro!

— Não se preocupe, ele não morde.

— Mas ele está assustando o Popy.

Rui agarrou o cachorro sem saber o que fazer com ele e acabou prendendo no banheiro onde ele ficou latindo e arranhando a porta.

Pouco depois Dora quis usar ao banheiro e Rui soltou o cachorro enquanto o cunhado prendia o gato no quarto.

O Pink saiu correndo, as mulheres gritaram e ele ameaçou morder a perna da Dora, mas Ruy conseguiu segurá-lo e botá-lo no quintal, só que então não podiam mais abrir a porta e ele pulava e latia na janela sem parar.

Dulce carregava o gato que assustado acabou arranhando-a.

Geny estava atordoada, sem saber o que fazer e Dora, já estava mexendo na cozinha perguntando onde estava o pó de café.

— Eu vou fazer o café...

— É só dizer onde estão as coisas que eu faço.

Os cinco homens foram juntos buscar o pão e aproveitaram para tomar umas cervejas no bar.

Demoraram a voltar e Geny tentava ser gentil com as cunhadas, mas no fundo estava detestando a visita.

As quatro mulheres sentaram a mesa bebericando o café enquanto esperavam que chegasse o pão conversando entre elas, pois Geny não achava o que falar. Nada do que falavam interessava a ela.

— Você devia ter feito um bolo.

Geny não quis contar que tentara fazer, mas o infeliz ficou solado e ainda queimou por baixo.

— Eu não sei fazer bolo...

Precisa aprender, alias você tem muito que aprender, o Ruy sempre foi muito exigente.

Geny resolveu dar o troco:

— O Ruy gosta de mim do jeito que eu sou.

As quatro trocaram olhares com um leve sorriso e Diva que tinha o gato no colo acariciou lhe a cabeça tentando disfarçar o mal estar.

O Pink uivava arranhando a porta e Geny arrependeu-se do que acabara de falar.

Mas, que pode uma sonhadora e inexperiente recém-casada dizer a quatro velhuscas que vem tirar o seu sossego em plena lua de mel?

— Arranje um pouco de leite para o Popy.

 Geny pôs a leiteira sobre a mesa.

— Precisa de uma vasilha para ele tomar o leite.

— Uma vasilha?  Um prato ou uma xícara?

— Não! Qualquer latinha ou embalagem vazia serve.

Onde que Geny ia encontrar latinhas ou embalagens vazias?

Os homens não chegavam nunca com o pão e a Dirce reclamou:

— Estou morrendo de fome.

 Estas palavras lembraram a Geny que tinha que preparar o jantar.

Meu Deus! Quantas medidas de arroz teria que cozinhar? E se o arroz empapasse? Quantos bifes para cada um?


Não precisava ter se preocupado, pois não só o jantar daquele dia como todas as refeições dos três dias que ficaram lá, as cunhadas fizeram.

Enquanto uma carregava o gato as outras se viravam na cozinha perguntando onde estava isto ou aquilo e Geny parecia uma barata tonta andando de cá para lá sem conseguir fazer nada.

O Pink latia sem parar. Não entendia por que não podia ficar fazendo desordem dentro de casa e recebendo broncas e carinhos como antes.

Em compensação arrancou as plantas do jardim, fez cocô na calçada e mastigou os tênis que Rui deixou no quintal.

Geny não conseguia disfarçar a irritação.

Está certo que são irmãs dele, mas não podiam vir uma de cada vez?

Precisavam ficar três dias atrapalhando o casalzinho? Será que não percebiam a confusão que estavam provocando?


A coisa culminou quando o Pink rasgou uma calcinha que Dora pendurou no varal e ela esbravejou:

— Não sei por que você não dá um fim nesse cachorro! Um bicho feio, sem raça, barulhento e mal educado!

Como se tivesse entendido, o Pink deu um bote na perna dela e o Rui irritado deu um pontapé no Pink.

Foi à gota d’água!´

Geny, furiosa, saiu à rua arrastando o Pink e foi alojar-se na casa da mãe.

E a cunhada exclamou:

— Que menina sem educação!

Coitado do Ruy!
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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Inconveniência
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Maith
Enviado por Maith em 19/08/2013
Reeditado em 24/08/2013
Código do texto: T4441417
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