ACORDEI, E AGORA?

A grande dificuldade que tenho em me relacionar amorosamente consiste em tentar tranportar para a minha realidade aquele tipo de garota que vejo nos filmes, seriados ou leio nos livros. Posso afirmar que nunca fui apaixonado por ninguém de verdade, o que amei ao longo da vida foram projeções minhas em outras pessoas que, logicamente, estavam bem distante daquilo que eu idealizara.

Sempre fui amante incondicional dos contrastes, fico encantado com coisas que reúnem em torno de si os mais variados contrastes possíveis e ainda sim caminham em harmonia, a guerreira deve ser doce, a inteligente também deve ser um pouco ingênua, a linda e exuberante também deve ser humilde e receptiva, a moderna e despojada também deve ser à moda antiga, para mim é mágico quando todos esses contrastes se personificam, mas infelizmente só o fez em minha mente.

No mundo, há muito do mesmo, a tragédia acontece quando para mim esse mesmo pode ser o ideal, quando a realidade assalta o coração, percebo que a imagem jamais saiu do reino mental onde ela ainda está inatacável, mas também inacessível, a frustração, no caso, nunca teve a ver com a pessoa.

Não precisei passar por nenhuma terapia, nem ler livros de autoajuda para chegar a essa conclusão, creio que venho vivendo em ilusão desde pré-adolescente, mas apenas agora, aos 29 anos de idade, me dei conta disso, a maturidade, enfim, bateu às portas.

Preciso aprender a me apaixonar pelo comum, ou tentar ver no comum algo extraordinário, coisa que eu não quero fazer, mas ao mesmo tempo sei que é impossível viver apaixonado por um sonho sem rosto e sem nome, eu não leio mais histórias de romance, não vejo mais filmes com essa temática há um tempo, na tentativa de me desintoxicar desses devaneios, tento, com um certo sacrifício, me adaptar ao comum e previsível das pessoas, a ver pessoas reais na minha frente e não sonhos, tem sido uma tarefa árdua, não é fácil deixar de ser um sonhador para se tornar um observador da realidade, é questão de sobrevivência, apenas; talvez quando eu aceitar o que é comum eu me insira no contexto e tenha mais sucesso, não digo que o comum seja ruim, pessoas reais também tem suas qualidades, ainda que não sejam as que eu admire, serei forçado a admirar o que não gosto e a desgostar do que admiro, é isso ou viver de sonhos até que minha realidade termine.

14/08/2013