Um dia difícil no consultório

Entrou na clinica já suando.

Com passos apressados chegou até o baldão para pegar uma senha, viu que ainda tinham duas pessoas na sua frente.

Apesar de ser pouco, para ele parecia que haviam mais de dez pessoas antes dele, isso foi o suficiente para que começasse a suar.

Na sala de espera, a poucos metros, quase todos os bancos estavam ocupados. Tinham crianças, senhoras, e pessoas de idade média.Todos aguardando os médicos que faziam parte do corpo de atendimento da clínica "Medical center".

Depois de finalmente as duas pessoas serem atendidas, aproximou-se do balcão com a identidade e com um papel que comprovava sua marcação de consulta.

A recepcionista olhou para o homem de cabelos grisalhos de camisa xadrez, suada, transpirando desespero e inquietação.

_ O senhor esta bem, seu Feliciano?_ falou a recepcionista depois de olhar para o homem e depois para sua identidade.

_ Sim, falou ele com a voz trêmula.

A recepcionista não entendeu. Mas afinal todos que estão aqui tem algum problema, se não tivessem isso não seria uma clínica, pensou.

Depois da recepcionista marcar seu nome na lista de consultas do dia, mandou que ele procurasse um lugar para sentar-se e esperar o médico.

Seu Feliciano agradeceu, pegou a identidade, e guardou dentro do bolso de sua camisa com marcas de molhado, foi praticamente se arrastando a procura do banheiro mais próximo.

Ao lado da sala de espera haviam dois banheiros um masculino e um feminino; e para o seu azar, o masculino estava interditado. Seu Feliciano lastimou tremendamente essa notícia, e já se contorcia na parede ao lado do banheiro feminino.

_Meu Deus! e agora o que faço?_ pensou seu Feliciano em voz alta, chamando a atenção de duas senhorinhas que estavam a espera do médico.

_Olha Gertrudes, há algo de errado com aquele homem. Você tá vendo a agoniação toda dele? Tá se contorcendo feito lagartixa.

_E não é que é mesmo. Parece até meu netinho João quando quer ir ao banheiro.

_ Será que é isso, Gertrudes? essa aflição toda é para ir ao banheiro?

_ E porque não vai logo então?

_ Olha lá a placa de interditado.

_ É mesmo.

E então, como se não pudessem controlar, a comédia lhes chegou no pensamento e começaram a rir sem controle.

_Isaura, já pensou o que vai acontecer se ele não der logo um jeito nisso?

_ Vai acontecer um acidente... hahahahaha_ ria dona Gertrudes, com os óculos quase a cair.

Enquanto isso seu Feliciano, longe de saber que divertia as duas senhoras, ficou a pensar como faria.

O jeito vai ser eu entrar no banheiro feminino, não terá outro jeito, pensou.

Puxou a maçaneta com força e adentrou no banheiro, sem pensar em mais nada.

O consultório era pequeno e era comum escutar os barulhos que vinha do banheiro, como da descarga, por exemplo.

O estrondo foi grande. Seu Feliciano, teve o prazer de livrar-se daquela carga que o consumia.

Era uma sinfonia desastrosa.

Der repente todos começaram a rir.

Não sabiam quem tinha entrado, mas com certeza, ficariam atentos para quem iria sair.

Lá dentro, seu Feliciano respirava aliviado. Já não suava mais.

Seu pecado foi ter comido ovos com conserva, coisa que ele adorava. No certo a conserva não lhe caiu bem ao estômago, talvez até já tivesse vencida. mas não se preocupava com isso agora.

Limpou-se, levantou as calças, já estando preparado para mandar tudo de ruim pelos esgotos do prédio. Foi então que notou que a descarga não estava funcionando. Na hora não leu o aviso que estava colado na frente da descarga, por motivo do seu desespero.

E agora? pensou.

O cheiro lá dentro já estava insuportável até para ele.

Abriu a persiana no intuito de amenizar o cheiro, mas não adiantou.

Viu uma vasilha e pensou que poderia enche-la e jogar dentro do vaso para encobrir o seu crime.

Para seu azar a torneira só fazia gotejar. Isso bastou para afligir ainda mais seu Feliciano.

Lá fora dona Isaura junto com dona Gertrudes começam a sentir o terrível odor que vinha do banheiro.

Pegaram o lenço para cobrir seus narizes afim de evitar o odor fétido que vinha do banheiro feminino.

Não demorou tanto para que todos que estavam ali começassem a sentir o odor.

Seu Feliciano já desistido de jogar água no vaso com a vasilha, abre a porta devagarinho para ver se podia sair despercebido, mas viu que todos já o aguardavam lá fora.

Para sua salvação a recepcionista chama:

_Feliciano Andrade Porfino... pode entrar.

Foi a desculpa que seu Feliciano esperava para poder sair sem prestar conta dos seus atos.

Saiu direto para o consultório do médico deixando um rastro de podridão pelo caminho.

_ Credo, que horror! diziam os pacientes incomodados.

Dentro do consultório, longe do perigo, seu Feliciano respira aliviado.

Seu Feliciano não esperava que o cheiro fétido pudesse chegar tão longe ao ponto do médico sentir.

_Nossa que cheiro! o senhor ta sentindo seu Feliciano? Tem gente que não respeita mesmo.

Seu Feliciano sem poder dizer nada pelo tamanho constrangimento, apenas balança a cabeça em afirmação.

_Então, qual é o seu problema, seu Feliciano?

_Doutor, estou com problemas intestinais. O senhor pode me passar um remédio para diarreia?

Foi o bastante para o médico entender quem era o altor do crime.

Depois disso, seu Feliciano não conseguiu mais encarar o médico.

Pegou a receita da mão do médico, agradeceu e saiu depressa pela porta.

Lá fora, com medo de encarar a multidão, fez todo o percurso de cabeça baixa até sair da clínica.

Depois disso, não sei se seu Feliciano ainda seria amante de conserva.

Suane Cruz
Enviado por Suane Cruz em 03/08/2013
Reeditado em 03/08/2013
Código do texto: T4418125
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