Coroa de flores

Ali, sentados a frente de grandes mausoléus cobertos de flores e anjos, estavam aqueles homens magros a tecer coroas de flores. Usavam da sua criatividade para proporcionar um ultimo adeus a quem não voltaria mais.

Sentados naqueles pequenos bancos, esses homens de peles escuras e de vestimentas simples, talvez moradores dos arredores do cemitério, separavam as flores, catavam os ramos que chegavam aos montes e que tomavam conta do pequeno espaço que dividiam com outros que também ganhavam a vida do mesmo jeito.

Eram flores para todos os gostos: jasmins, rosas, hortênsias, e o tradicional cravo.

Eles faziam os mais variados tipos de combinações, tudo no intuito de agradar o freguês.

Ganhavam dinheiro com a tristeza dos outros. Seus clientes eram os clientes mais tristes que podia existir na classe dos clientes. O que se comprava não era por vontade, mas sim uma obrigação. Um ato de adeus representado através do perfume e da beleza das flores.

Não faziam isso por maldade, mas afinal se não fizessem esse trabalho, quem faria? quem daria mais cor aos túmulos abandonados?

A morte era o que mantinha seus empregos; era o meio pelo qual conseguiam comprar o pão para si e suas famílias.

Um dia, pensavam, talvez alguém compre uma dessas mesmas coroas que fazem, para adornar sua ultima morada. Mas até esse dia chegar, continuarão fazendo da perda um motivo para continuarem vivendo.

Suane Cruz
Enviado por Suane Cruz em 02/08/2013
Reeditado em 10/10/2015
Código do texto: T4416391
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