Caras-Metades

Há 21 anos estávamos casando. Lembro da cara triste de minha mãe e a ausência de meu pai. Mais tarde ele diria que não tinha sido convidado. Eu diria, a gente convida quem se alegra com as bodas.

Alguém poderia pensar que não éramos as nossas caras-metades [como bem ensinou o professor Rafael Vieira].

Sim, éramos e somos... Não consigo imaginar-me sem você. Não consigo me ver na praia sem suas pegadas emparelhadas às minhas na areia. Não consigo ouvir uma música que me emocione e não te fazer em seguida uma poesia.

Há 21 anos minha mãe estava com um olhar triste e duvidoso de nossa capacidade de tomarmos uma medida tão radical. No mundo real, casamento sempre foi algo duvidoso. Era mais fácil quando havia alguma desculpa convincente, uma gravidez ou riqueza mesmo. Não era gravidez e nem riqueza. O que nos convencia era apenas o amor. Sim, apenas. Porque no mundo real o amor é somente um apenas.

O olhar distante e triste de minha mãe contrastava com a alegria de seu pai, meu sogro. Há 21 anos comemorávamos nosso casamento com uma torre de tijolos como churrasqueira. A pobre churrasqueira contrastava com meu ar tão rico de amor olhando a bela mulher que agora seria apenas minha, somente minha. E já ansiava pela primeira noite, nossa primeira noite.

Não ligava para os tijolos em brasa, para a cara triste de minha mãe, para a alegria de meu sogro e para a ausência de meu pai; ligava apenas para seu belo rosto, suas pernas, suas curvas e o breve momento que separava a tarde da noite de desejo.

Hoje, após 21 anos, ainda o que mais me marca desse momento são suas curvas e toda a história que escrevemos desde àquele 1992 tão distante. Ainda lembro da cara triste de minha mãe, da alegria de meu sogro e da ausência de meu pai. Minha mãe, meu sogro e meu pai já se foram, tiveram seus anos. Ainda estamos aqui e não vejo a hora de terminar essa pequena crônica e chegar a noite de desejo.

Gisele...

Rodiney da Silva
Enviado por Rodiney da Silva em 30/07/2013
Código do texto: T4412301
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