Repentes poéticos... (EC)
Não tive como fugir de um poema engendrado por um dos gênios da escrita no nosso país!
Inevitavelmente pus-me a pensar no que ‘passava’ pela cabeça daquela pedra, ali, estática no meio do caminho... Devaneios poéticos são comumente confundidos com, citação muito forte em se tratando de uma doença ingrata que assola boa parte dos seres humanos, demência!
Sou um demente, que vivo a elucubrar situações que denotam loucuras para os simples viventes mortais.
Um normal se perguntaria: Como pode alguém pensar que se passa alguma coisa pela cabeça de uma pedra? Começa que pedra não tem cabeça, pô!
E não são só pedras os objetos inanimados fontes de inspiração para escritores, poetas ... seres que fazem da citação e observação das coisas que fazem seu cotidiano, seu ‘modus operandi’ de vida!
E dá-lhe ‘fornecer vida’ aos postes de iluminação pública, aos gramados inertes das praças públicas, às frondosas árvores, aos pássaros, aos balões que sobem aos céus nas festas juninas, a lua, ao sol, etc. e tal...
Então, a pedra do poema do Grande Mestre também pensava e, obviamente, não exprimia com som o que lhe vinha na cabeça...
Pensava por qual razão estava colocada assim, no meio do caminho!
Questionamentos vários perpassavam sua mente... Fora ali colocada para, estrategicamente impedir que incautos caminhantes tivessem o dissabor de pisarem em dejetos existentes logo após ela? Fora ali colocada para que estes mesmos caminhantes desviassem seu caminho para observarem em melhor ângulo as lindas flores que sobressaiam-se dentre o verde das folhas daquele belo roseiral? Fora ali colocada para que enamorados exibicionistas nela subissem e declamassem poemas melosos para suas amadas ou fora ali colocada para que a mesmice de um caminhar em linha reta sofresse um desvio sintomático e motivador?
Ou ali estaria somente para motivar alguém de pensamento genial, que teria o condão de compor uma poesia onde ela, humilde, parada, inanimada figuraria como personagem central, motivação impar para que um gênio da composição literata compusesse uma poesia para uma pedra?
Com sua benção e licença, Carlos Drummond de Andrade:
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Poesia para uma Pedra
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