PINA - A EXCLUÍDA DO FACEBOOK

Que cara é essa, Pina?

Arretei!

Desta vez, por que?

Sou uma excluída... Uma discriminada... E ninguém liga para isso.

Excluída? Discriminada? Aqui em casa?

Quase!

Como quase? Aqui você faz quase tudo que quer.

Quase... Tem coisas que a senhora não deixa.

O que, por exemplo?

Exemplo? A senhora não me deixa assistir televisão de tarde. A senhora não me deixa aumentar o volume do rádio. A senhora não me deixa usar seu computador.

Ora, Pina! Você é contratada para trabalhar.

Mas e a hora de descanso?

Você descansa. Tira até um cochilo depois do almoço. E eu nem a acordo.

Tinha que jogar na cara. Eu sabia... Eu sabia...

Pina! Por que isso hoje? Acordou com a macaca?

A senhora sempre me diz que eu preciso saber das coisas.

Perai! O que você vai aprender assistindo aos programas da tarde, escutando músicas em volume alto e mexendo no meu computador?

Gegê! Eu não sei mentir... Quando a senhora sai à tarde, eu assisto à televisão e aumento o som do rádio, enquanto estou fazendo o serviço. Às vezes, eu paro... Mas, só um pouquinho.

Eu sei!

Como a senhora sabe?

Todo empregado faz isso... Tem até um ditado que diz “Gato não está, o rato come em cima da mesa”.

Quando a senhora viu rato aqui em casa?... Eu limpo tudo e nunca vi nem uma sujeirinha de rato. E se tem, é só a senhora trazer o veneno que eu passo. Gato? Só se for o do seu Takeo. Ele já trouxe uma vez. Soltou um monte de pelo no sofá. Tive até que passar o aspirador.

Ai... ai... ai... ai... ai... É modo de falar, Pina! Um ditado popular.

Ah! bom... Então explica...

Gato é o patrão, o chefe...

Isso é verdade... A senhora ainda está bem gatinha.

Não é exatamente isso, mas obrigada pelo elogio.

De nada... Mas quem é o rato?

O empregado.

Perai, Gegê! É isso que a senhora pensa de mim? Depois de tantos anos?

Ai... ai... ai... ai... ai... Pina... apaga, apaga... Delete o que eu disse... Onde eu estava?

A senhora estava contando do gato e rato...

Ah! sim... Que eu sei que você para de trabalhar quando eu saio. Todo empregado faz isso.

Já sei... A senhora tem um gravador no seu computador. Grava e depois deleta, é isso?

Claro que não! De onde você tirou essa idéia?

Eu vi... Ouvi... Não me lembro onde, que os computadores podem fazer isso.

O meu não tem esse sistema.

Ah!

Então, Pina. Agora que você confessou que assisti a TV, escuta rádio, você desarretou?

Quase...

Por que quase? O que mais?

È que falta a parte do computador. Por causa dele é que sou discriminada.

Pina! Mas você não me disse que comprou um no Natal passado.

Comprei... Faltam oito prestações.

E qual o problema, então?

Eu não tenho esse tal de “Feice... Feice...” que quase todo mundo tem.

Só por isso a arretação?

Claro! Todo mundo só fala disso. As apresentadoras dos programas da tarde, o pessoal que fala no rádio, as pessoas no trem. Até a Zefinha me disse que tem um monte de amigos nesse “Feice”. Ela quase riu de mim, quando eu disse que não sabia o que era.

Ora, Pina! Se o seu problema é esse, seus problemas terminaram. Depois eu lhe ensino a abrir uma conta no Facebook.

Se tiver que abrir conta, não quero... Já estou devendo prum um monte de gente... Tem os carnês, o fiado da vendinha...

Ai... ai... ai... ai... ai... Não tem que pagar nada.

Então eu quero... Quando a senhora me ensina? Hoje?

Eu vou sair agora... Tenho que fazer umas compras no shopping e ir à academia. Se a casa estiver arrumadinha quando eu voltar, eu ensino. E serei sua primeira amizade.

Eu vou poder conversar com a Zefinha?

Você conversa com quem quiser. A hora que quiser.

A senhora vai me deixar usar seu computador?

Claro que não, Pina!

Está vendo.... Sou uma excluída... discriminada...

Para, Pina! Tem toda a casa para arrumar. Senão, nada de Feice

Sabia...

Tchau! E nem tente mexer no meu computador que ele tem senha.

Ah!

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 28/06/2013
Código do texto: T4362419
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