UM BEIJO

Caminhava de mãos dadas com meu noivo quando um garoto de rua se postou à nossa frente e ficou parado nos olhando. Uma criança franzina com os pés descalços e carinha ansiosa. Meu companheiro perguntou-lhe o que desejava já esperando a resposta de sempre. O menino abriu um sorriso e pediu para que ele desse um beijo em mim. Ficamos surpresos com aquilo, insistimos se não queria uma ajuda, comer alguma coisa, mas recusou-se e reafirmou o pedido. Atendemos então a sua vontade. Satisfeito saiu correndo dando pulos e risos, até sumir de vista.

Sempre procurei uma explicação para este fato tão atípico, o menino queria apenas ver um beijo! Talvez fosse tratado em sua casa com a indiferença “do sai pra lá”, aos bofetões e não recebesse nem visse alguma demonstração de carinho. Seria provável também que nem tivesse uma casa ou uma família.

Foi perceptível e inesquecível a enorme alegria que sentiu, mas não sei sinceramente o que isso representou para ele. Para mim acabou tendo um significado, entendi que principalmente para uma criança o afeto é a primeira de todas as necessidades e nunca mais consegui dar um beijo que não fosse carregado de muito amor.